Lisboa é destino romântico é destino de engate. É spot gay é spot hetero. Viajantes cruzam-se e lisboetas encontram-se. E de cada ano que passa a cidade fica mais cosmopolita e globalizada e mais cosmopolitas e globalizados ficam também os casais que por aqui se avistam. Nos meus tempos de faculdade tinha um estranho fetiche em torno de me apaixonar por uma estudante Erasmus. Talvez por na altura, não ter experimentado ainda algo que me soasse a verdadeiro amor, encarava de forma romântica aquele dia da separação em que talvez, feitas as contas e mensurados os sentimentos, se chegasse à conclusão que merecia a pena continuar e validar uma relação por correio, e-mail, msn, skype e viagens esporádicas nas quais se poderia matar a saudade, consolar a libido e alegrar o coração. E só mais tarde percebi que a separação e a distância têm mais de tramadas e lixadas que românticas ou encantadas e, lá devo ter percebido a dada altura, que era uma graça divina apaixonarmo-nos por alguém que paire perto de nós.
Este post não foi premeditado. Há dias encontrei estas fotografias e fazia-me pouco sentido publicá-las isoladas. Foram retratos que tirei, uns mais assumidamente outros mais à socapa, mais à laia de experimentar a máquina que por outro qualquer motivo. Fizeram-me pensar nos casais, no amor e nos relacionamentos. No que eles me dizem, no que eles me atraem, naquilo que a sua condição me causa inveja e na inveja que lhes poderei causar a eles. Ocorrem-me aquelas duas teorias intemporais nas quais acreditamos alternadamente consoante o período da vida que vivemos, segundo as quais estivemos sempre predestinados para aquela pessoa ou que, essa mesma pessoa não é – perdoem-me…”não foi”…este raciocínio aparece usualmente no pretérito – mais do que o fruto de meia dúzia de casualidades. E se há alturas em que prezamos particularmente aquelas jantaradas de mancebos em que se descreve em detalhe – como que batendo na mão do peito – as mais insignes proezas sexuais e respectivas badalhoquices de cada um; há também as outras, em que, com uma voz melosa e um pingo de felicidade pura no peito, nos quedamos em descrições alongadas de um pôr-do-sol na praia ou uma noite fria ao relento na companhia certa.
Este post não foi premeditado. Há dias encontrei estas fotografias e fazia-me pouco sentido publicá-las isoladas. Foram retratos que tirei, uns mais assumidamente outros mais à socapa, mais à laia de experimentar a máquina que por outro qualquer motivo. Fizeram-me pensar nos casais, no amor e nos relacionamentos. No que eles me dizem, no que eles me atraem, naquilo que a sua condição me causa inveja e na inveja que lhes poderei causar a eles. Ocorrem-me aquelas duas teorias intemporais nas quais acreditamos alternadamente consoante o período da vida que vivemos, segundo as quais estivemos sempre predestinados para aquela pessoa ou que, essa mesma pessoa não é – perdoem-me…”não foi”…este raciocínio aparece usualmente no pretérito – mais do que o fruto de meia dúzia de casualidades. E se há alturas em que prezamos particularmente aquelas jantaradas de mancebos em que se descreve em detalhe – como que batendo na mão do peito – as mais insignes proezas sexuais e respectivas badalhoquices de cada um; há também as outras, em que, com uma voz melosa e um pingo de felicidade pura no peito, nos quedamos em descrições alongadas de um pôr-do-sol na praia ou uma noite fria ao relento na companhia certa.
E no outro dia, na mesma pista de dança onde cheguei a recitar, em momentos menos nobres das minhas bebedeiras, (e porque me fascina ver um homem de aparência dura revelar-se tão sensível) excertos de crónicas do Lobo Antunes à minha namorada (muito antes dela sonhar vir a sê-lo e imediatamente antes de me virar costas e ir comentar com as amigas que eu tinha tanto de insolente quanto de retardado), achei graça ouvir o meu amigo Mirsa perguntar-me:
- Hoje não me apetece meter-me com nenhuma gaja. Apetece-me conversar. Achas que há aqui alguma rapariga que queira conversar?
- Claro que sim. – respondi.
Olhei para a pista e achei que metade daquela gente de aparência sexy e descontraída sentia no fundo falta de acordar com alguém ao lado a quem não sentisse necessidade de pedir que lavasse os dentes antes de se voltarem a beijar. Porque esse é o critério científico mais preciso que conheço para detectar o amor. Conseguir desfrutar daquela doce – em teoria insuportável – halitose matinal da pessoa que se tem ao lado sem a interferência de um dentífrico. Mas isto sou eu que digo... E sempre ouvi a minha mãe dizer-me, carinhosamente é certo, que tenho uma certa pancada. Até porque, supostamente, estávamos aqui para falar de trapos, não era?
- Hoje não me apetece meter-me com nenhuma gaja. Apetece-me conversar. Achas que há aqui alguma rapariga que queira conversar?
- Claro que sim. – respondi.
Olhei para a pista e achei que metade daquela gente de aparência sexy e descontraída sentia no fundo falta de acordar com alguém ao lado a quem não sentisse necessidade de pedir que lavasse os dentes antes de se voltarem a beijar. Porque esse é o critério científico mais preciso que conheço para detectar o amor. Conseguir desfrutar daquela doce – em teoria insuportável – halitose matinal da pessoa que se tem ao lado sem a interferência de um dentífrico. Mas isto sou eu que digo... E sempre ouvi a minha mãe dizer-me, carinhosamente é certo, que tenho uma certa pancada. Até porque, supostamente, estávamos aqui para falar de trapos, não era?
64 comentários:
All we need is LOVE!!! :)
adorei ler isto
fotografias /conceito muito bem conseguido
:)
Muito giro!
Este blog é muito mais do que falar de trapos...parabéns pelo texto e obrigado por confirmares uma velha teoria minha: o beijo ao acordar, sem a frescura dos dentes lavados, é um critério palpável para sabermos que amamos alguém...
"alguém para conversar", adorei.
Eu podia ser um dos teus retratos... Nem sempre...mas hoje eu sinto-me como um dos teus retratos. Obrigada.
Uma anónima que por aqui passa.
Sempre que por aqui passo não deixo de pensar que ainda há homens por aí que valem a pena, que têm sentimentos mais profundos, que anseiam por tudo aquilo que procuro.
Venho aqui ao Alfaiate não só pelas fotografias, pelas roupas, pela moda, mas também pela forma como escreves. Tudo parece simples.
Zé! Na altura do liceu ainda não havia Skype! :)
Um grande abraço.
O post está BOM!
Rui Quinta
Excelente!
Um abraço.
Primeira vez que por aqui passo e deixei-me "fotografar"! =)
Fantástico.
Continuação*
Os trapos levaram-te cá numa viagem...
É "uma graça divina apaixonarmo-nos por alguém que paire perto de nós". É mesmo. E conversar é bom, é pena é que muito gajo queira só engate. :)
so, so nice :D
***
Acima de tudo, está aqui um belíssimo texto. Parabéns!
Excelente post!
belas palavras e bela montagem gráfica.
http://inninesix.blogspot.com/
Sempre que passo um fim-de-semana em Lisboa vou passear com a minha namorada pelas ruas que aparecem fotografadas.
Permite-me o desabafo: o teu texto e os teus clicks de hoje fizeram-me assumir perante mim mesma (e agora também aqui) que tenho muitas saudades de Lisboa a 2!
E sim, partilho a tua teoria do beijo matinal! Há malucos para tudo!:)
Epa, simplesmente genial Alfaiate. Conseguiste transformar uma frase dita em circunstâncias ébrias, num dos melhores retratos deste blog. O único senão é que as palavras tocaram-me e fiquei com saudades do meu morning breath kiss.
Aquele abraço,
M.
PS: esse teu amigo com um nome estranho parece ser muito bom rapaz, se fosse rapariga não me arrependeria nada de lhe pagar um jantar no Olivier.
este post entra directamente para a categoria dos meus preferidos :) adorei!
beijinhos
Já suspeitava, mas agora é oficial: o Alfaiate é um romântico. E só lhe fica bem ;o)
Ah, e gostei das fotografias cortadas!
Gostei tanto!..
Ó Zé, tenho sérias dúvidas que seja alguma vez suportável, mas enfim.
Belo texto, parabéns!
Beijinhos
recitar ALA no meio da pista é romântico!? Good grief, é um turn-off monumental ou, quando muito, sinal de uma memória prodigiosa...mente dada às coisas longas e sem pontuação)! :)
O hálito matinal é sempre horrível, Zé. O que o amor mascara é a tolerância/enervabilidade/nojo.
Quanto às fotos, muito cândidas. Gostei especialmente dos velhadas-laranja. :)
Bonita, essa tua pancada. Só o meu sorriso, neste instante, explica o verdadeiro gozo que tive em ler este post. Parabéns. Adorei as palavras.
"Quem és tu que, assim protegido pela noite, vens surpreender o meu segredo?"
poderia ter sido fotografada para este post. Partilho da tua opinião, não há sitio melhor para namorar
"O critério científico mais preciso que conheço para detectar o amor."
Posso nem concordar com o dito "critério" mas que é uma frase digna de um poeta, lá isso é. Ou de uma canção do Chico Buarque.
Abraço,
TCM
"O critério científico mais preciso que conheço para detectar o amor."
Posso nem concordar com o dito "critério" mas que é uma frase digna de um poeta, lá isso é. Ou de uma canção do Chico Buarque.
Abraço,
TCM
Gostei particularmente do meter-se com a gaja e conversar com a rapariga :-), há que marcar a diferença, concordo. Merece de certeza o jantar no Olivier :-)
Belo post, principalmente pelas palavras, também gostei muito das fotografias cortadas, vou "roubar" a ideia.
Quanto ao Amor, nós amamos as pessoas quando os defeitos delas não nos incomodam, certo?!
Gosto tanto de passar por aqui.
Penso sempre: qualquer dia escrevo. Hoje foi o dia!
Parabéns.
Ps: sim, Lisboa pode ser um lindissimo cenário romântico. Ou um lindo pano de fundo para qualquer foto inspirada.
... olhar atento e sedutor, capacidade de reflexão, sentido estético, prosa madura, sensibilidade q.b..
Para quando os tais contos de que falavas há dias?
Quero um convite para o lançamento e um exemplar autografado da 1ª edição.
Bj grd.
Como te disse no outro dia, por mt boas q sejas as fotografias, o titulo q têm e os textos q lhes seguem podem fazer a diferença. aqui está mais um belissimo exemplo disso.
gostei mt das fotografias, adorei o texto, tanto mais o referido "criterio" e como alguem disse...dei por mim a sorrir. Qt a seres romantico só quem n te conhece é q n topa isso. :)
Go on!
criticart
adorei o tema do teu post... amor acima de tudo :) casais muito interessantes
beijinhos***
márcia*
Não sei se gostei de ler isto ou se adorei... ou ainda se detestei... só sei que valeu a pena a confusão "cá dentro".
Bah...
A minha mãe também me diz - carinhosamente - que tenho pancada. A maior parte das vezes até concordo.
Dos teus melhores posts... mas isso talvez seja pela "fase" que estou a passar (ainda não percebi muito bem esta coisa da vida por fases e estar à espera de uma fase ininterrupta é cansativo... vá, capítulo, chamemos então "capítulo", é a mesma m$#%@ mas pronto.)
Anyway... Obrigada...
Muitos parabéns por conseguir(es) dar uma alma a um blog "de fotos de moda". A beleza maior está no facto de mostrar(es) um bocadinho de ti em cada post.
O casal das calças laranja é uma fofura!
E Lisboa é uma cidade perfeita para passear e namorar!
Gostei do post :)
Genial!
:D
Genial!
:D
...O amor está no ar!
Pri, ali em cima.
Is-pec-ta-cu-lar! :)
Um posto muito corajoso, Ze! Gostei de ler e as fotos sao uma boa ilustracao para o texto! Abraco Andre B
Muito bom!
venho aqui de vez em quando desde há algumas semanas e hoje, passeando à hora de almoço pelo chiado com a minha colega (chegámos ao rossio que estava invadido por "hooligans azuis ingleses") comentei que podíamos, hoje, ser um post do Alfaiate Lisboeta. Isto pressupondo, claro, que temos "interesse estilístico visual" suficiente :-)
Este foi o post que mais me emocionou no teu blog, até agora. escreves muito bem! Parabéns *
ps1: de facto a distância tem muito mais de mau do que de bom, quando se está apaixonado!
ps2: o teu amigo encontrou, na pista de dança, uma rapariga para conversar? ou só gajas para engatar?
Bonito. Faz-me ter saudades de estar apaixonada! =)
Não. Também estamos aqui para falar de amor.
curioso... também me cruzei com esse casal laranja, no mesmo dia suponho, e no mesmo sítio, mas no sentido inverso e eu ía de autocarro...
Muito bom! Muito bem escrito e descrito...
Abraço,
DG
Zé, adorei este post :)
Beijinho,
Rah
Quando comecei a ler, nao consegui parar mais, talvez pq esteja a rever-me nesse teu texto ou talvez porque esteja demasiado sensivel... Mas principalmemte pq concordo absolutamnete contigo! Inegável potencial...
Adoro e gosto. Gostei muito da forma simples como foi escrito. O grande talento, para mim, está em passar a verdade das coisas para o "papel", e tu, engraçado consegues fazer com que o leitor esteja entre todas as vírgulas. Parabéns a a ti, e a mim que te descobri hoje. (Precisamente hoje no dia que decidi fazer uma dieta à base de hidratos de carbono. Já vou na 5 bolachinha de manteiga. è que hoje estou pachorrenta)
Escreve maissssssssssss
cumprimentos
Adoro e gosto. Gostei muito da forma simples como foi escrito. O grande talento, para mim, está em passar a verdade das coisas para o "papel", e tu, engraçado consegues fazer com que o leitor esteja entre todas as vírgulas. Parabéns a a ti, e a mim que te descobri hoje. (Precisamente hoje no dia que decidi fazer uma dieta à base de hidratos de carbono. Já vou na 5 bolachinha de manteiga. è que hoje estou pachorrenta)
Escreve maissssssssssss
cumprimentos
... queremos todos falar de sentimentos de gente e é impressionante como os blogues nos viabilizam essa necessidade...
Gosto do corte e costura deste alfaiate e serei cliente...
Adoro o seu bolg e adorei especialmente este post. Parece realmente genuino e está, como sempre, muito bem escrito.
*
boa!!! força e continua
Post delicioso :)
AC
boa zé
ONDE ANDAS ALFAIATE??
Adorei, adorei, adorei este post!
Fez-me relembrar Lisboa com um sorriso.
E o conceito está muito bem conseguido.
Um beijo,
acabei de reparar que um grande amigo meu aparece numa foto aqui!
Olá! É engraçado rever estas fotos agora, porque sou uma das partes de um destes casais. E agora, passados mais de três anos de nos teres apanhado num dos nossos passeios pelo Bairro Alto, continuamos juntos e temos um filho com um ano.
anónimo das 11:35 de 15 de Janeiro de 2013
muito (mas muito mesmo) obrigado pelo seu comentário. faz pensar que tudo isto valeu a pena =)
um abraço,
José Cabral
Valeu sim. Para nós esta é uma boa memória de uma tarde em que um alfaiate fotógrafo veio ter connosco e nos disse algo que nos fez crer que os nossos sentimentos se mostram aos olhos de quem sabe Ver. Quanto às colunas do alfaiate... é bom ler e ver a moda muito além do superficial. Retribuo o abraço e espero continuar a ver muitas mais imagens com histórias.
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