domingo, 31 de janeiro de 2010

Ray Frensham – o melhor de fotografar fora de Lisboa é fazê-lo precisamente com aqueles que nunca seria possível encontrar por cá

Ray Frensham – o melhor de fotografar fora de Lisboa é fazê-lo precisamente com aqueles que nunca seria possível encontrar por cá

Havia quem insistisse que um dia, uma das minhas curtas sessões de fotos se prolongaria para um café. Eu neguei sempre mas hoje teria que lhe dar razão - convidei o Ray para tomar um expresso enquanto pseudo almoçava e fui escutando-o sorridente. No mesmo dia em que o fotografei, este distinto cavalheiro ia ser entrevistado para esta reportagem da BBC. Considerado um dos homens mais excêntricos do Reino Unido e membro de um clube exclusivo para o qual, numa realidade portuguesa, nem os nomes pomposos que herdei da minha mãe me abririam portas, não consigo deixar de descobrir uma espécie de orgulho juvenil neste homem de meia idade. Coleccionador, escritor, blogger, o Ray tem uma queda monumental por trajes vitorianos e no fundo, o seu discurso oscila entre “sou um tipo normalíssimo” e o “ok está bem, sou um bocadinho diferente”. Sinceramente fiquei sem perceber; certeza apenas uma – o encanto de fotografar fora de Lisboa está todo aqui

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

African flavour

African flavour

Há coisas que se calhar, o melhor mesmo seria coibir-me de as contar mas se assim fosse tudo isto não teria metade da graça. Esta miúda é que nos veio perguntar pela estação de metro mais próxima caso contrário nem teríamos reparado nela. Depois de lhe responder sugeri-lhe que tirássemos a fotografia. Conversa rápida estilo “donde és para onde vais” e uma vez que era o seu aniversário disse-lhe que me despediria dela à portuguesa ao mesmo tempo que me aproximo para lhe beijar a cara. Mas no preciso momento em que pronuncio a palavra “kiss” ela dá um salto e, com uma cara aterrorizada, diz (quase que grita) “Sorry but I have got a boyfriend and he is waiting me right there!”. E pronto, lá segui caminho a ser gozado pelo meu melhor amigo

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

domingo, 24 de janeiro de 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Fernando Pereira - SuMisura

Fernando Pereira - SuMisura

Simpatizo com o Miguel Sousa Tavares. Não o imagino particularmente simpático mas simpatizo com ele. Para vos ser completamente franco, tenho-lhe até um respeito que não estou a habituado a sentir por pessoas que não conheço. E sim é verdade. Estou no Facebook porque os outros estão. E se calhar, infeliz de mim, por algumas das “razões inconfessadas” que ele enumera. Mas adiante, nem tudo tem que ser assim tão mau. Conheci o Fernando Pereira através do Facebook. Do seu perfil cheguei ao site e do seu site à sua vida. Agendei uma marcação e fui conhecer o seu espaço – a SuMisura. Confesso-vos, sou um bocado desequilibrado com contas. Sou poupado numas coisas e esbanjador noutras. Curiosamente, ao contrário do que se podia supor, sou particularmente sovina com a roupa. Daí que, quando entre num espaço como a SuMisura, o faça com um misto de curiosidade e desconfiança. Já o disse aqui. Não ligo muito a marcas, ou por outra, ligo a muito poucas. E às vezes, quando entro em certas lojas, tenho vontade que me expliquem o preço das coisas. Sim, porque eu presto atenção aos preços. Tenho noção que, socialmente falando, é dos atributos menos sexys que se pode exibir mas, muito sinceramente, não há nada que me apeteça fazer a esse respeito. Não estou disposto a pagar 6 euros por algo que posso comprar por 5. E quando me pedem 6 euros por um serviço que outro tipo me presta por 5, das duas uma, ou alguém me explica porquê ou vou falar com o outro tipo.

Na SuMisura as explicações não são uma mera figura de estilo. Elas existem mesmo, à séria. Foi das coisas que mais gostei no Fernando; falou-me em tecidos, pontos, pespontos, costuras, cortes e entretelas. Falou-me em ingleses, italianos, roupa que se confunde com a pele e trapos que duram eternidades. Explicou-me porque é que há fatos que custam x, casacos que custam y e porque é que uma camisa de fio retorcido é a mais suave e resistente. Explicou-me tudo. Falou-me dos grandes Alfaiates, das grandes casas. Do Lourenço & Santos, do Pestana & Brito, do Rosa & Teixeira, das minhas queridas criações do Homem, de como cada uma delas apareceu e de como cresceram. Falou-me de teares, de casacos estruturados, da gramagem dum fato, da fibra, da espessura da fibra, do fio e do número de torções que aplicam a um fio. O Fernando respira tudo isto. E esse, quer se queira quer não, é o maior segredo de qualquer projecto. E este tem um princípio muito simples. O cliente não escolhe. O cliente cria. O Fernando está lá para ajudar

domingo, 17 de janeiro de 2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Terrugem - Sr. Fernando Teixeira Sousa

Terrugem - Sr. Fernando Teixeira Sousa

Tenho boa memória. Não é comum esquecer-me de aniversários e, há informação que retenho na cabeça, que nunca me irá servir de nada. Ainda no outro dia caí no erro (e no embaraço) de corrigir um cliente enquanto tentava trautear o nome completo da sua própria mulher. Acho que ainda hoje, com um pequeno esforço mental, me conseguiria lembrar de todas as datas em que iniciei namoros. Mesmo daquele com a que já se casou, com a que tem casamento marcado ou com a outra que ainda hoje deve cumprir a jura de não me tornar a dirigir palavra. Não me ficava mal dizer-vos que também me lembro do que traziam elas vestido mas no dia que vos quiser mentir, arranjarei melhores pretextos. Basicamente...acho graça a efemérides. A todas elas, sem excepção.

A minha directora tinha-me ligado na sexta à tarde “Cabral, segunda-feira é o seu primeiro dia na Terrugem”. Da localidade, só me lembrava que ficava a caminho da Ericeira e, não fosse eu enganar-me, ainda me dei ao trabalho de lá ir de véspera. Vou-vos ser sincero, trabalhar na Terrugem causa-me constrangimentos a toda a hora: cativa-me parte da vida pessoal e faz-me adiar resoluções importantes. Fez ontem dois anos que lá estou. Neste período de tempo devo ter almoçado umas míseras 3 ou 4 vezes com amigos que não trabalhem no Grupo Banco Espírito Santo, chegado atrasado a não sei quantas combinações pós-laborais e, provavelmente, contraído não sei quantos favores para que me fossem buscar isto ou aquilo em horas de expediente. Mas não vos posso dizer que não goste de lá trabalhar. A localidade é simpática. E mais importante ainda, as pessoas também. Não é o melhor sítio do mundo para quem se incumbiu a tarefa de alimentar este blogue mas, até à data, nada que um esforço adicional nas horas vagas não tenha conseguido compensar.

Enquanto cliente, foram raras as vezes que pus os pés num banco. E não sei que pensaria se me aparecesse um pató qualquer a dizer “ah e tal…tenho um blogue e gostava de o fotografar”. Ao gajo que trabalha num banco exijo, antes de mais (que se lixe a simpatia, a apresentação ou o que quer que seja) que seja de confiança. Porque, antes de tudo o mais, é de confiança que aquela relação se trata. Afinal de contas, ninguém mais sonha que o Tio Manel ainda faz depósitos na conta daquela amante que a Tia Alice julgava já ter passado à história, e, ao Tio Manel, não passa pela cabeça que a Tia Alice ainda pague metade da prestação da casa ao filho, a quem o pai deixou de falar desde que descobriu que ele gostava de homens (não preciso de dizer que não são apenas os nomes que são fictícios, pois não?). E numa terra pequena, como em qualquer bairro lisboeta, a confiança é a coisa mais importante que se pode esperar dum tipo que trabalha num banco. E é de confiança que este retrato que é feito. Não confiasse em mim, e o Sr. Fernando Teixeira Sousa não me teria dito que o podia fotografar “sempre que assim o entendesse”. E no fundo, é também da confiança que este blogue é feito. Porque às pessoas que aqui aparecem não só não vi um extracto bancário como nunca as vi antes.

Eu quero muito sair da Terrugem, mas no dia que isso acontecer, vou certamente ficar a olhar por cima do ombro. E imagino-me a lá passar daqui a dez anos e dizer ao meu puto enquanto lhe indico a dependência do BES “O pai trabalhou ali” (os pais têm esta tendência estranha, ao melhor estilo de um Jardel ou um Quim Berto, de se referirem a si próprios na 3ª pessoa quando se dirigem aos filhos, não é?). E quando me vier de lá embora, para além das minhas queridas companheiras de trabalho, vou ter saudades das pessoas da Terrugem. Das chalaças do Sr. António, do sorriso tímido da Isabel ou da elegância do Sr. Teixeira Sousa.

Quanto a casacos de xadrez pouco mais tenho a acrescentar. Dos quatro que apareceram aqui antes, dois deles sou eu que os trago vestidos. É uma das minhas peças favoritas. A combinação entre a gravata e o lenço são o toque de classe do Sr. Teixeira Sousa. O pano de fundo é a Terrugem

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Elegância militar

Elegância militar

Esta fotografia já foi tirada no Sábado. Atravessei a H&M em direcção à rua do Ouro e fiquei parado a olhar para o Tiago. Abordar pessoas dentro de lojas e dizer “estou lá fora à sua espera” evoca-me o passatempo predilecto dum amigo que sempre que apanha uma miúda gira junto à prateleira dos vinhos se sai com um “e que tal uma garrafa lá em casa?” (eu sei eu sei...és a sofisticação em pessoa mas continuo a achar que expressão “lá em casa” não é a mais indicada para uma opening line).

Já o disse vezes sem conta mas não me canso o fazer. Eu gosto de fotografar pessoas que me surpreendem. Não tenho predilecção alguma por botas da tropa nem qualquer fascínio particular por visuais militares mas o Tiago lembrou-me uma versão streetwear daquele oficial elegante que se apresenta impecavelmente fardado para uma cerimónia com bandeiras ao vento e para o respectivo baile dessa mesma noite (desconfio que há muita cinefilia a alimentar este imaginário). A minha lata aprimora-se de dia para dia mas sempre que vejo alguém interessante dentro dum espaço comercial não me consigo deixar de lembrar da “garrafa lá em casa” e, por essas e por outras, senti-me bem mais confortável a estrear essa abordagem com um homem. O Tiago incomodou-se muito pouco com a minha sugestão. Pediu-me 15 minutos para despachar os cabides que trazia na mão e encontrámo-nos lá fora. Já dizia Lavoisier, “nada se perde tudo se transforma”, nesse mesmo intervalo de tempo fotografei as gregas mais giras da cidade

domingo, 10 de janeiro de 2010

Sofia e Rita - As irmãs luso-helénicas mais giras de Lisboa

As irmãs luso-helénicas mais giras de Lisboa
As irmãs luso-helénicas mais giras de Lisboa

(sou obrigado a reconhecer que não é propriamente o título mais disputado da cidade mas vocês percebem a intenção...)

p.s. dei-me ao trabalho de ligar para a embaixada da Grécia em Lisboa para saber qual das expressões seria mais adequada, “luso-helénicas” ou “greco-portuguesas”, mas o número de atendimento geral recordava que, durante o fim-de-semana, havia apenas disponível um número de telefone para emergências e pronto…lá me vi na obrigação de relativizar um bocado a importância que dou a este blogue

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Macau em Sagres – o Infante D. Henrique haveria de ficar orgulhoso desta Portugalidade além-mar (chapéu e gabardina Labrador)

Macau em Sagres – o Infante D. Henrique haveria de gostar desta Portugalidade além-mar (chapéu e gabardina Labrador)

"Ao longo da História o Homem sempre se sentiu fascinado pelo desejo de encontrar lugares desconhecidos e misteriosos. Há cinco séculos atrás, a "Terra do Labrador" - a velha "Terra Laboratoris" no Atlânitco Norte - tournou-se um símbolo desta procura de mistério e aventura. Hoje em dia, o nome "Labrador" continua a simbolizar essa mesma paixão intemporal pela descoberta, que jamais se apagará.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Um ano de alfaiate - a samarra do pai



Ocorreram-me inúmeros motivos para não o fazer. Não perceber um cú de fotografia, nunca ter tido uma conversa profissional sobre moda, trabalhar na pacata localidade da Terrugem (que aposto, uns bons 90% de vós não faz ideia onde é) e, na altura, não ter sequer máquina fotográfica. Esse detalhe, resolvi com a ajuda dum amigo, os quase 40 km de distância de Lisboa e eventuais faltas de jeito nem tanto. Eu gostava de vos poder dizer (e de resto, até dava bastante mais estilo) que nada disto me dá grande trabalho. Que as fotografias aparecem a toda a hora, que alguns dos posts mais especiais não surgiram precisamente por via da minha falta de disponibilidade para me cruzar com gente na rua, que nunca foi necessário recorrer a um despertador para assegurar que determinado texto é publicado a tempo e horas, que me sinto sempre inspirado para os escrever, que nunca deixei de fazer nada por causa do blogue ou que este nunca me trouxe nenhum dissabor. A verdade é que não é bem assim. Por outro lado, acho que é precisamente esta dedicação que me permite gozar a alegria dos bons momentos que o alfaiate me proporciona. Mas sou-vos sincero. Acham que nunca pensei que fazia figura de otário a abordar desconhecidos? Pensei claro. Acham que nunca me ocorreu que a única coisa que consegui com isto foi negligenciar a minha carreira profissional e minar a minha vida sentimental? Ocorreu claro. Mas também é justo admitir que o blogue e a dedicação que lhe tenho me ajuda pôr de lado as minhas frustrações profissionais, desilusões amorosas ou o que quer que seja que me ande a lixar o juízo. E depois há momentos sublimes. Como o mail duma senhora que me pedia uma dicas sobre o que deveria levar vestido à ópera, aquele outro dum alto cargo da Lacoste Portugal que, por causa disto, dizia que ficava a aguardar morada, tamanho e tonalidade para me enviar dois pólos, um para mim, outro para o meu pai (quando se recebe um feedback da própria Lacoste com conjugações do verbo fascinar é complicado não se ficar com a sensação que uma simples brincadeira foi bem mais longe do que alguma vez se poderia ter imaginado). Ver a reacção da minha irmã ao meu presente de Natal, ouvir, em plena entrevista ao Rádio Clube, comparar-se o que faço à obra de Henry Miller (caro Aurélio, foi a observação mais descabida e sobrevalorizada que já ouvi sobre o alfaiate, mas foi também, sem margem para dúvida, aquela que mais dentes me deixou à mostra) ou escutar o Pedro Rolo Duarte ler excertos dos meus textos (a última vez que ouvi alguém ler em voz alta alguma coisa que eu tivesse escrito estava a meio da correcção dum teste de Filosofia e a minha professora do 10º ano tentava humilhar-me perante toda a turma lendo uma resposta minha que evidenciava, essencialmente, pouco estudo e muita imaginação). O blogue faz-me bem. Eu, que tenho fama de agressivo e irascível entre os amigos, dou aqui azo a um alter ego que, sem querer entrar em filosofias baratas ou esoterismos bacocos, me dá sempre uma visão mais animada do mundo, daqueles que o percorrem e de tudo o que gira à sua volta. No fundo é isto que me faz ter o blogue. Dá-me energia. Da boa. Talvez por isso me custe tanto perceber a índole de meia dúzia de cavalheiros que já me abordou na pista do Lux, enquanto dançava tranquilamente sem incomodar vivalma, a insinuar que não me visto o suficiente bem para “ter a mania” / “me julgar” / “andar para aí armado” em alfaiate como se, aquilo que aqui escrevo, fosse feito de alguma presunção ou visasse provocar-lhes qualquer tipo de comichão; como se, aquilo que aqui escrevo, tivesse por propósito causar incómodos a terceiros ou maltratar quem quer que seja – caríssimos, tudo o que vos tenho a dizer é que o Lux continua a ser a discoteca onde vou com mais frequência, e que me encontro desde já disponível, caso seja vosso desejo, para trocarmos umas chapadas lá fora, desde que, detalhe importante, longe da entrada, que não me quero ver impedido de lá entrar. Resumindo. Havia 1001 motivos para não ter iniciado este blogue. Motivos racionais, concretos e convincentes. Mas avancei. E, um ano depois, dou-me feliz por isso. Rejubilo com a ideia de saber que há quem encare este blogue como um livro de crónicas cujas páginas vai virando diariamente, com a mesma disciplina que eu sintonizo a TSF, 5 minutos antes das 9h, para ouvir os Sinais do Fernando Alves ou, com a energia que abria a Visão no tempo das crónicas do António Lobo Antunes (não estou a comparar as minhas fotografias amadoras ou as idiotices que aqui escrevo com o trabalho destes senhores, queria apenas agradecer àqueles que me fazem sentir um bocadinho como eles, só isso). Porque no fundo essa era uma das coisas que eu gostava de ser quando fosse grande. Cronista. Até porque, essa é a única ocupação que me merece juízos pessoais sobre quem a desempenha. Porque a crónica dum indivíduo é sempre o próprio indivíduo. E é por isso que fico contente quando estranhos me dizem que gostam do meu blogue. Porque no fundo, sinto que esses estranhos gostam também de mim. E fico feliz por isso. Pode ser?