Não há ninguém designado para o efeito. É como se, entre o meu grupo de amigos, a "mão invisível" do Adam Smith assegurasse que um de nós se lembra de avisar todos os outros quando há Chocolate City no Lux. Por entre a minha malta há uma certa queda pelo Hip-Hop e R&B e, em particular, por essas noites em que terminam comigo, quase sozinho na pista, virado para a Yen Sung e o seu convidado, a fazer figuras que fazem lembrar um bêbado a dançar o Roxanne na recta final duma festa de casamento. E só quando lhe perguntei o nome – porque gosto sempre de saber o nome de quem fotografo – percebi que me preparava para fotografar a minha D.J. favorita; a única mulher para quem posso passar a noite toda a olhar, a cantar e a esbracejar sem que a minha namorada faça caso disso.
O colorido do calçado da Yen lembra-me como, há uns bons 10 anos, me chegou a primeira descrição do Lux – a discoteca onde se podia entrar de ténis. Mas, apesar de contrastar radicalmente com os vela e as camisas aos quadrados com que rumávamos religiosamente à porta de um edifício branco na 24 onde, segundo a etiqueta local, se deveria passar a noite de copo na mão a dançar com os olhos, não foi pela indumentária que a revolução que o Lux protagonizou na noite lisboeta me tocou particularmente. Nesse campo parece-me que se limitou a adiantar uma tendência. Não foi também pelo espaço fantástico, pelas inovadoras projecções ou pela programação musical. Ou pelo menos – agora que me recordo do quão impressionado e saloio me senti da 1ª vez que lá entrei – não foi isso o mais relevante.
A noite é um mundo à parte. Parece-me uma regra basilar de qualquer negócio fazer-se por tratar bem aqueles que garantem a sua subsistência. Mas na noite, verifica-se uma inversão de lógicas que nos conduz a uma função, segundo a qual, quanto mais sucesso tem um espaço nocturno, mais legitimidade parece ser reconhecida ao seu staff para maltratar quem por lá passa. A simpatia e a afabilidade da Yen acabaram por me remeter para o imenso respeito que nutro pelo Lux. Eu gosto do Lux, de muita da música que por lá passa, do espaço amplo, do seu pé-direito, dos gajos giros e das gajas boas, da varanda, do terraço, das projecções nas paredes e de mais um sem número de coisas... Mas o que eu gosto mesmo do Lux é de algo que nunca encontrei numa outra discoteca portuguesa. É do respeito com que se trata quem lá entra. É perceber que os seguranças estão lá, como o próprio nome sugere, para assegurar a minha segurança. É saber que posso contar com uma casa de banho asseada num momento de aperto e, constatar, que a senhora que a limpa me parece mais simpática e educada que tantas supostas vedetas que promovem tantos outros espaços nocturnos. É saber que, ao dirigir-me a um bar, me vão servir uma bebida decentemente, apresentar um estojo de 1ºs socorros caso me aleije ou, simplesmente, saber que mesmo sem ter um decote generoso ou amigos lá dentro, haverá, algures, alguém disponível a quem me possa dirigir.
Ainda no final do Verão do ano passado jurei que nunca mais entrava num sítio que começasse com a letra K quando, à saída daquele bonito espaço ao ar livre junto ao rio, e depois de ser ameaçado por um segurança a quem tinha dito que devia ter cuidado para não empurrar quem por ele passasse, vi um outro esbofetear um cliente. Mas, (ainda) mais que a dita bofetada, impressionou-me a inexistência de qualquer censura perante aquilo. Como se todos aqueles que ali estavam – colegas e clientes – assumissem que ver um mono com hipertrofia muscular achar-se no direito de fazer justiça pela sua própria vontade fosse apenas uma vicissitude da “noite”. E pronto…no fundo é isso. Sinto que se um dia me acontecer algo de muito bom e for para o Lux festejar (e beber muito para além da minha conta) arrisco-me provavelmente a que me acompanhem à porta e que me digam o que disseram um dia a um amigo meu:
- Desculpe mas não vai ser possível. E amanhã quando cá voltar, vai-nos agradecer por não o termos voltado a deixar entrar.
Não vos posso assegurar que no Lux só trabalha gente educada e bem formada, nem faço ideia de quantos episódios desagradáveis lá ocorrem por noite. O que eu sinto, bem ou mal, é que há lá uma fundo. E que esse fundo, parece dizer a quem lá trabalha que os clientes são para ser estimados. Isto não devia ser motivo de elogio. Mas é. E foi já na pele deste blogue que acho que descobri o porquê de tudo isto. Cruzei-me um dia com o Manuel Reis. Não é uma figura fácil. Tem uma silhueta interessante mas o porte e o semblante carregado não convidam à abordagem. Mas falei-lhe...falei-lhe no Alfaiate e perguntei-lhe se o podia fotografar. De tão educada e elegante que foi a sua recusa, que fui para casa com a sensação que tinha acabado de tirar a mais bonita fotografia para o blogue. Como se, naqueles 30 segundos de diálogo, tivesse percebido o porquê de o Lux ser diferente. Nem tanto pelas doses industriais de gajas giras que lá vão, pelo som que por lá se passa ou por aquele magnífico Terraço que, neste Outono tépido, ainda se mantém convidativo. Por nada disto, apenas pela sua delicadeza e trato.
O colorido do calçado da Yen lembra-me como, há uns bons 10 anos, me chegou a primeira descrição do Lux – a discoteca onde se podia entrar de ténis. Mas, apesar de contrastar radicalmente com os vela e as camisas aos quadrados com que rumávamos religiosamente à porta de um edifício branco na 24 onde, segundo a etiqueta local, se deveria passar a noite de copo na mão a dançar com os olhos, não foi pela indumentária que a revolução que o Lux protagonizou na noite lisboeta me tocou particularmente. Nesse campo parece-me que se limitou a adiantar uma tendência. Não foi também pelo espaço fantástico, pelas inovadoras projecções ou pela programação musical. Ou pelo menos – agora que me recordo do quão impressionado e saloio me senti da 1ª vez que lá entrei – não foi isso o mais relevante.
A noite é um mundo à parte. Parece-me uma regra basilar de qualquer negócio fazer-se por tratar bem aqueles que garantem a sua subsistência. Mas na noite, verifica-se uma inversão de lógicas que nos conduz a uma função, segundo a qual, quanto mais sucesso tem um espaço nocturno, mais legitimidade parece ser reconhecida ao seu staff para maltratar quem por lá passa. A simpatia e a afabilidade da Yen acabaram por me remeter para o imenso respeito que nutro pelo Lux. Eu gosto do Lux, de muita da música que por lá passa, do espaço amplo, do seu pé-direito, dos gajos giros e das gajas boas, da varanda, do terraço, das projecções nas paredes e de mais um sem número de coisas... Mas o que eu gosto mesmo do Lux é de algo que nunca encontrei numa outra discoteca portuguesa. É do respeito com que se trata quem lá entra. É perceber que os seguranças estão lá, como o próprio nome sugere, para assegurar a minha segurança. É saber que posso contar com uma casa de banho asseada num momento de aperto e, constatar, que a senhora que a limpa me parece mais simpática e educada que tantas supostas vedetas que promovem tantos outros espaços nocturnos. É saber que, ao dirigir-me a um bar, me vão servir uma bebida decentemente, apresentar um estojo de 1ºs socorros caso me aleije ou, simplesmente, saber que mesmo sem ter um decote generoso ou amigos lá dentro, haverá, algures, alguém disponível a quem me possa dirigir.
Ainda no final do Verão do ano passado jurei que nunca mais entrava num sítio que começasse com a letra K quando, à saída daquele bonito espaço ao ar livre junto ao rio, e depois de ser ameaçado por um segurança a quem tinha dito que devia ter cuidado para não empurrar quem por ele passasse, vi um outro esbofetear um cliente. Mas, (ainda) mais que a dita bofetada, impressionou-me a inexistência de qualquer censura perante aquilo. Como se todos aqueles que ali estavam – colegas e clientes – assumissem que ver um mono com hipertrofia muscular achar-se no direito de fazer justiça pela sua própria vontade fosse apenas uma vicissitude da “noite”. E pronto…no fundo é isso. Sinto que se um dia me acontecer algo de muito bom e for para o Lux festejar (e beber muito para além da minha conta) arrisco-me provavelmente a que me acompanhem à porta e que me digam o que disseram um dia a um amigo meu:
- Desculpe mas não vai ser possível. E amanhã quando cá voltar, vai-nos agradecer por não o termos voltado a deixar entrar.
Não vos posso assegurar que no Lux só trabalha gente educada e bem formada, nem faço ideia de quantos episódios desagradáveis lá ocorrem por noite. O que eu sinto, bem ou mal, é que há lá uma fundo. E que esse fundo, parece dizer a quem lá trabalha que os clientes são para ser estimados. Isto não devia ser motivo de elogio. Mas é. E foi já na pele deste blogue que acho que descobri o porquê de tudo isto. Cruzei-me um dia com o Manuel Reis. Não é uma figura fácil. Tem uma silhueta interessante mas o porte e o semblante carregado não convidam à abordagem. Mas falei-lhe...falei-lhe no Alfaiate e perguntei-lhe se o podia fotografar. De tão educada e elegante que foi a sua recusa, que fui para casa com a sensação que tinha acabado de tirar a mais bonita fotografia para o blogue. Como se, naqueles 30 segundos de diálogo, tivesse percebido o porquê de o Lux ser diferente. Nem tanto pelas doses industriais de gajas giras que lá vão, pelo som que por lá se passa ou por aquele magnífico Terraço que, neste Outono tépido, ainda se mantém convidativo. Por nada disto, apenas pela sua delicadeza e trato.
Mas todos nós sabemos, que para fazer uma discoteca tão especial, tudo isto não chega. Falta a Yen. E cheira-me que não vou esperar até à próxima noite de Chocolate para a voltar a ouvir. Aliás, este post deixou-me a cantarolar uma certa música do Sérgio Godinho da qual tanto gosto, com vontade de lhe adulterar a letra e trocar 3ª por 6ª feira, e dizer que vou (lá para as 5 da madrugada) não à ladra mas ao piso de baixo do Lux. É lá que vai estar a Yen hoje. Eu vou. Do you?