quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Palavra de escoteiro

Palavra de Escoteiro

Fui escoteiro e escuteiro. Quem foi um dia um deles percebe a diferença. Os outros percebem o essencial – que algures na minha pré-adolescência usei um lenço colorido ao peito e calcei umas meias compridas que prendia com o elástico das jarreteiras.

Há uns dias, em conversa com um cliente que é dirigente escutista, faltou-me energia para o contrariar. Dizia ele, sabendo do meu passado de lenço ao peito, que achava a indumentária escutista desactualizada. Que percebia que os jovens não se revissem naquele fardamento e que, em tempos em que a imagem parece contar quase tanto quanto a substância, dificilmente sentiriam o apelo escutista. À excepção do dia em que a Mariana Cardoso me chamou betinho quando passei por ela de mochila às costas, senti-me sempre bem de lenço ao peito. E para vos ser franco, se tomarmos como excepção que confirma a regra esse dia em que a minha personalidade se vergou perante os lindos olhos da Mariana, achei-me sempre um miúdo sexy naquela farda – a única que tive verdadeiro prazer em usar.

O Francisco e o Luís pareceram-me bem orgulhosos dos seus uniformes. Lembraram-me que nunca na vida vou cuidar de uma gravata como cuidei daquele lenço. E deixaram-me saudoso daquelas noites à volta da fogueira em que cantávamos o menina estás à janela, o dunas, a versão portuguesa disto e uma mão cheia de hits dos Resistência. Disso e daqueles olhares cúmplices que, por entre as achas da fogueira, deixavam no ar o desejo de um primeiro beijo à socapa, entre o último chichi da noite e o caminho para a tenda. Vou-vos ser sincero. A minha saída dos escuteiros não foi das mais épicas. Fui suspenso. Perguntaram-me o que achava e voltou a faltar-me a mesma energia que já me havia falhado no início do post. Mas senti saudades. Da fogueira, do lenço e das jarreteiras. Ainda sinto. A sério. Palavra de escoteiro

44 comentários:

RuI Quinta disse...

Não havia tecnicistas que tocassem o "hotel california"?
:)

Maria Inês disse...

ou o Homem do Leme... Tal como tu, sempre me achei linda de lenço ao peito;) por acaso esses dois meninos não são de Sintra?

Miguel disse...

eut ambe fui escuteiro. e odiava usar as calças. mas já adorava andar de calçoes e com os meioes!
mas acho que o que conta mesmo nos escuteiros é a vivencia e nao proprimente, o visual.. mas sao opinoes :)

AnA disse...

Quantos não se identificam com o que escreves?
tens um dom inato para a ftografia e para a escrita! Mais uma vez Parabéns!

CAP CRÉUS disse...

Bom texto. Gostei!
E fez-me lembrar os meus acampamentos através da FPCC, em que precisamente se cantava o Dunas...

JB disse...

Também fui escuteira e escoteira, e ter deixado a actividade é uma das coisas que mais me arrependo, não me sai do pensamento que um dia quando tiver tempo vou voltar.
Sentia me orgulhosa quando vestia a "farda" e para mim o meu lenço era o mais bonito de todos, o mais fashion, o sempre na moda e ficava bem com tudo...
Lêr este post fez-me sem duvida recordar muitos bons momentos.

C. disse...

E o orgulho que é andar de lenço ao pescoço. O orgulho que tenho nas amizades feitas, nos momentos à volta da fogueira, nas confidências e até nas birras sobre quem lava a loiça! Ainda maior é o orgulho em ser Escuteira. Quanto a ti, parabéns pelo blog e pelo dom da escrita.

Beijinho *

Inês de Oliveira disse...

tambem fui e sei bem o que descreves. a verdade eq a honra nunca vai passar de moda. beijinhos, continua

Storyteller disse...

Não fui escuteira nem escoteira, mas fui guia. O meu filho, de 8 anos, é escuteiro e tem um orgulho enorme na farda e ainda mais no lenço. Ao ponto de querer fazer a Primeira Comunhão fardado e eu estar em conflito com o colégio dele (que é de freiras) por causa desta vontade.
Ah! E os escoteiros e os escuteiros ficam lindos de farda. Tanto os meninos como as meninas.

Isabel I disse...

Sinceramente nunca achei muita graça aos escuteiros, talvez por os associar muito a missas e procissões. Também não aprecio grandemente fardas que associo a desfiles e carneiradas. Nem sei bem se era esta a ideia do Baden Powell... Mas isto sou eu com as minhas inquetações. Sorry...

Anónimo disse...

Belo texto, Zé! Pena não poder partilhar essas memórias... Se fosse criança outra vez, tenho a certeza de que ia engolir o meu orgulho e vestir esses calcões, para também me poder juntar à comitiva!;)

maria gabriella disse...

também já fui escoteira e confesso que tenhos saudades :)

Maria Francisca disse...

Um [agradavel] post inesperado : )

Só sabe o que é quem por lá passa. E para quem o espirito da coisa se entranha, fica uma marca reconhecível por quem sabe/sente do que se fala.

Palavra de escuteira

Sara disse...

É tudo isso...e muito mais! Muito mais que vai para além da descrição (por melhor q esta seja).
Sempre que visto a farda sou uma pessoa diferente. Fico logo toda inchada...é um orgulho, incomparável a qualquer outra coisa.

Quem foi(verdadeiramente) escoteiro e/ou escuteiro sempre o será. Palavra de Guia.

Parabéns pelo blog.

A Marona Beja disse...

Como eu te compreendo.
Boa caça e uma forte canhota.
Falcão Azarado

Unknown disse...

Parabéns pelo texto, e pelos momentos vividos de lenço ao peito. Parabéns a todos que passaram pelo escotismo ou escutismo. Tenho a felicidade de aos 31 anos ainda poder usar o meu, embora agora seja o de Chefe Regional da AEP. A todos que têm saudades e uma pontinha de vontade de voltar, vão ao site da AEP e Voltem, precisamos de voçês.

Uma canhota

Maria SL disse...

Fui escuteira até há pouco tempo. Guardo excelentes memórias daqueles tempos...
Não acho nada que a farda esteja desactualizada. Vesti-a durante 14 anos e foi sempre um orgulho. Ainda me faz confusão ir à missa sem ir fardada!

Inês disse...

B.P. disse: "...apartir do momento da tua promessa de escuta, serás escuteiro para toda a vida, mesmo que ela te leve para outros rumos..." Nem todos ficam, nem todos conseguem conciliar, nem todos têm energia, nem todos têm paciencia para um grupo de lobitos inexperientes, exploradores na puberdade, pioneiros e as suas experiencias, caminheiros dispostos a servir. É com saudade que falam de tempos, em que todos relembram os momentos passados à volta na fogueira, pois nos escuteiros ou escoteiros existe sempre uma fogueira, uma viola, uma tenda e uma mochila...

Maria Luísa disse...

Sou escuteira há 12 anos e não há "visual" que me dê mais orgulho que a minha farda! Partilho muitas dessas memórias que tão bem descreveste! Parabéns pelo blog e pela escrita que sabe tão bem ler, uma canhota escutista para ti!

Demóstenes disse...

Sei bem do que falas pois também eu fui escuteiro (mas nunca escoteiro).

Bom fim-de-semana.

Eva disse...

Leio o post uniformizada e de lenço (roxo) ao peito:) estou de saída para mais uma actividade, sou dirigente e formadora da AEP e tenho mesmo muito orgulho no meu uniforme e no trabalho voluntário que faço com os miúdos. Esses meninos são do 93, são catitas, mas o meu lenço é muito mais giro!:P

Anónimo disse...

Há escuteiros e escoteiros para todos os gostos, uns ligados à igreja católica, outros sem ligação a nenhuma igreja. Quanto a BP, ele próprio era um militar e usava farda, não me ocorre nunca, quando vejo um grupo de escuteiros ou escoteiros, que se trate de desfile ou carneiradas. BP também usava a sua farda e o seu lenço, não me ocorre também, que nesse pormenor a sua ideia tenha sido adulterada. E como o alfaiate disse no texto, é um orgulho usar uma farda ligada a um grupo tão grande e absorvente. Poderíamos ser escuteiros sem farda? Sim, mas não era a mesma coisa.
Canhotas.

Sação disse...

Grupo absorvente? Talvez tenha querido dizer abrangente. A ideia de Baden Powell que eu acho que foi adulterada, não tem nada nada a ver com com fardas e a estética delas mas sim com o ideal e a filosofia à qual foi foi feita uma colagem abusiva.

Cats disse...

Fui escuteira durante 7 anos e não fazia ideia de que se podia ser suspenso. Deves ter feito das boas, deves xD

Vi disse...

Sempre Alerta !!
Uma forte canhota duma ex escuteira, agrupamento 68 =)

Beijinhos

Sílvia disse...

A ideia de Baden-Powell em "uniformizar" tinha a ver com o facto de o escutismo ser para todos e não haver acepção de grupos sociais ou poder económico, e tinha também a ver com o conhecimento da psicologia infantil e juvenil - da necessidade de pertencer a um grupo, de se identificar, de fazer parte. não tinha nada a ver com "seguir o rebanho", visto que as pistas lançada por BP apontam para o "progresso individual" e o pensar pela própria cabeça, dentro do grupo.
Alfaiate, fiquei muito surpreendida com o teu post. Toda a gente goza com os escuteiros, pela farda e pelas missas (enfim!) que gostei de ver.

Uma canhota

Anónimo disse...

Absorvente, sim era a palavra. A farda está carregada de simbolismos, ligados a essa mesma filosofia, ninguém falou num imperativo da farda no ideal escutista. É falada aqui, porque diz respeito ao post, só isso.

(n)Ana disse...

Engraçado.
Sei que não te conheço, mas do que vou ouvindo de ti, pensaria que tivesses sido tudo menos escuteiro.
Fui dirigente e secretária de agupamento de um agrupamento do CNE, deixei aí por Março deste ano porque a minha vida andava a mudar e o tempo para dedicar como devia ser, começou a ficar mais escasso.
Sempre usei o uniforme com orgulho e ainda no fim de semana passado ao continuir para o Banco Alimentar, dei com muito orgulho o meu saco cheio a dois pioneiros e senti as mesmas saudades de que falas neste posto.
Engraçado. Tu escuteiro...!
Como dizia o outro posto citanto o Gump:
"Life is really like a box of chocolates."

(n)Ana disse...

*contribuir... (hehehe!)

(n)Ana disse...

*post!

Maggie disse...

boa fotografia.
talvez a ultima antes destes dois meninos (e todas nós) sermos oficialmente caminheiros.
somos de sintra, do 93 :)
e sim, ostentar a farda e o lenço é sempre um motivo de orgulho por tudo aquilo que representam,ainda que aqueles q nunca passaram por isso nao os compreendam
uma grande canhota

mf disse...

E vimos nós encontrar 'família' nos sítios mais insuspeitos...

Camille disse...

Lenço ao peito é um orgulho. Post muito bom.

,de uma ainda escuteira.

winkle disse...

Intrometo-me .. como te percebo!

Sempre alerta!

Unknown disse...

Olá a todos!
Não se foi escuteiro, escoteiro ou guia. É-se escuteiro, é-se escoteiro e é-se guia, porque a promessa/compromisso é feita/o no mais íntimo do nosso ser quando a/o fazemos e fica connosco até sempre.
Para os mais saudosistas e não só, está aí a surgir o "Escutismo Adulto" em que os que na juventude pertenceram a movimentos escutistas, mantendo o ideal escutista e a parte lúdica, orientam as suas actividades para questões e necessidades da comunidade, do ambiente, dos animais, etc.
Há uma diferença: como somos adultos e também temos outros compromissos, podemos fazer-nos acompanhar da família,nas nossas actividades .
Podem consultar www.fna-escutismo.org ou http://www.isgf.org/ por exemplo.
Ah! também podem ver um pouco do que foi o ACANAC da FNA em Agosto/2009 em Sintra através das fotos, por dias, que são mostradas em http://www.porto.fna-escutismo.org/Pg/Acanac09_30.htm onde no "Jantar do Reino" no dia 1 de Agosto até tivemos o B.P. a jantar connosco!!!
Boa Caça para todos e um Santo Natal!
Chinchila Serrana

F disse...

Uma vez escuteiro, escuteiro para sempre!

ganhste uma fa

Trend.me UP disse...

É impossível ler este post e não comentar...as recordações renasceram à flor da pele imediatamente e se fechar os olhos ainda consigo recuar até aos fabulosos "descansos dos guerreiros" que fazíamos ao som da lenha da fogueira a estalar, em plena serra de Sintra.
Boa caça!

CA

Jonas disse...

Percebo a dificuldade que é para "gente de fora" entender o quão útil e apropriada às actividades era aquela farda. Mais valia rasgar as pernas todas nas silvas que um par de calças afinal.. Os tempos estão duros para recrutar novos escoteiros, mas nós os velhos sabemos o que aquilo vale. O lenço azul e amarelo é que é um mimo!!

Marota disse...

Sempre adorei fardas. Obrigado senhor alfaiate, o senhor tem mesmo bom olho para boas fotos.

Miss Jones disse...

Fui lobita, exploradora, pioneira e caminheira. Doze anos, mais de cem noites de campo, era eu que levava a viola e que tocava as músicas dos Resistência. Sempre enverguei o meu lenço com orgulho, sempre selado em baixo com o nó da amizade, não fosse a anilha cair. Adorava as meias e até as jarreteiras. E tenho mesmo muitas saudades..

Mas houve momentos na adolescencia, em que só de me ver ao espelho com a farda vestida tinha vontade de desistir. Em termos teóricos, a farda não é feia e aos rapazes fica quase sempre bem. Mas aquela farda é tudo menos adequada ao corpo em mudança de raparigas adolescentes! A não ser que se tenha a sorte de continuar a usar a saia que se usava no último ano de lobita =)

Bjs desta ex-45 Caxias

Miss Jones disse...

Fui lobita, exploradora, pioneira e caminheira. Doze anos, mais de cem noites de campo, era eu que levava a viola e que tocava as músicas dos Resistência. Sempre enverguei o meu lenço com orgulho, sempre selado em baixo com o nó da amizade, não fosse a anilha cair. Adorava as meias e até as jarreteiras. E tenho mesmo muitas saudades..

Mas houve momentos na adolescencia, em que só de me ver ao espelho com a farda vestida tinha vontade de desistir. Em termos teóricos, a farda não é feia e aos rapazes fica quase sempre bem. Mas aquela farda é tudo menos adequada ao corpo em mudança de raparigas adolescentes!

A não ser que se tenha a sorte de continuar a usar a saia que se usava no último ano de lobita =)

Bjs desta ex-45 Caxias

Anónimo disse...

Concordo com a Ines, uma vez escuteiro, "serás escuteiro para toda a vida, mesmo que ela te leve para outros rumos...", memorias que ficam para sempre... eu adorava a minha farda embora fosse quente no verão, há 20 anos atrás não havia cá t-shirts nem calções no meu agrupamento como os vejo agora, era a bela da camisa de manga comprida, saia de fazenda e meias até ao joelho com jarreteiras de lã, de inverno ou de verão, obrigatória, ou levavamos nas orelhas. Obrigada pelo revivalismo.

disse...

Comecei ao contrário, de O Alfaiate no Metro a O Alfaiate Lisboeta. Esta tarde descobri o blog e estou há um par de horas a viver uma certa ambiguidade de sentimentos, dividida entre a força que me prende à cadeira, às fotos e histórias que leio em cronologia inversa, e a vontade de sair à rua, passear na baixa, ver gente gira, apreciar a forma como se vestem de pormenores, porque "God is in the details".
Abstraí-me de comentar qualquer post pela certeza de não ter nada a dizer que o fosse interessante ou valorizável! Continuo a não ter, de qualquer forma, mas o inesperado deste post despertou uma vontade difícil de controlar...
Poucas roupas me deixam tão confortável quanto o meu uniforme e tão confiante quanto o meu lenço de escuteira. A felicidade desses momentos vividos é difícil de superar...
Uma canhota amiga da escuteira ;)
Carina

Inês Sousa de Menezes disse...

Também eu fui escoteira e precisamente do 93 Sintra, o grupo desses rapazes, aliás conheço o Francisco. E vim aqui parar...como o destino tem coisas engraçadas!
Nunca se esqueça: escoteiro um dia, escoteiro para toda a vida!