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Eu fotografo pessoas nas quais reparo. Pessoas que me roubam a atenção. Mas isso não significa que as fotografe a todas. Ora porque estou a falar com alguém a quem não posso dizer “dê-me dois minutos por favor, vou só ali fotografar aquele senhor” ora porque em quem eu reparo vai longe, a entrar no carro carregado de compras, miúdos ou preocupações. E, essencialmente, gosto de fotografar pessoas que estão sozinhas. Porque já vi pessoas ficarem envergonhadas com a presença dos próprios amigos, familiares ou namorados. Porque já vi pessoas mais embaraçadas com os seus pares que comigo mesmo. E há uma situação particular que me constrange sempre um pouco – a de sugerir uma fotografia a uma mulher que esteja na companhia de um homem. Não consigo deixar de sentir um travo de deselegância. Não me consigo deixar de me sentir algo indelicado. Mas já o fiz. Em momentos como este em que vi um homem descontraído de mais para se melindrar com um miúdo a fotografar-lhe a mulher. Ou neste dia em que, pura e simplesmente, eu tinha que tirar esta foto (“não és homem não és nada Zé não és homem não és nada”) e jamais me perdoaria se não o tivesse feito. Ou nos precisos momentos em que disse aos 2 ou 3 amigos que rodeavam a Ilaria e a Desiré que as levava por alguns minutos. Porque o que todos estes momentos têm em comum não diz respeito ao que se vê em cada uma das fotografias mas à angústia que eu sentiria se não as tivesse tirado. Porque o que eu não me poderia permitir era deixar de fotografar a Ana. Tanto melhor que o amigo sorriu. Tanto melhor que ele gostou. Mas confesso-vos, isso para mim é apenas um detalhe. Certo é que... jamais me perdoaria não tivesse feito este retrato do Porto com travo funchalense
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