- Ah e tal...tenho um monte no Alentejo.
Quando entrei na faculdade eram frases como esta que mais sofisticação delegavam no mundo rural. Em pleno confronto directo para ver quem mais doses de charme lançava sobre uma mesma miúda lá me ia safando com um “Sei de um monte giro, não muito caro. [No meu Fiat (com leitor de K7) sem ar condicionado mas com os dois vidros bem abertos] estamos lá em pouco mais de duas horas”.
Os tempos são outros (o carro e o rádio não), o mundo rural é agora visto de uma forma cool, sofisticada. Voltámos a valorizar o conceito de “tradicional”, enaltecemos uma catrefada de vezes que isto ou aquilo é feito à mão, plantamos hortas no meio da cidade (e os nosso amigos acham o máximo), preferimos comida natural a corantes e conservantes e estamos dispostos a pagar (e às vezes muito) para que famílias de agricultores partilhem connosco o seu modo de vida. O conceito de Pousada compete, ombro a ombro, com hotéis de porteiros de fraque e cartola, eu já ganho vergonha na cara quando não consigo reconhecer a planta que o meu avô tem no seu alpendre (e ele pergunta sempre, meio gozão, “com que então julgavas que a batata vinha do pacote, não era?”), percebemos que não conhecer o Vale do Douro deverá ser motivo de maior embaraço que nunca ter passado férias na Praia da Rocha e, de repente, queremos lá nós saber que a água de Sagres seja gelada e achamos de longe maior encanto às praias vicentinas que àquelas que ligam Vilamoura a Albufeira.
A moda não é autista e se toda a gente lhe diz que “O mundo rural é que esta a dar” ela debruça-se sobre ele. Confesso que não estava bem certo disso e que ainda vivia um bocado na ideia (e no preconceito) de que as colecções eram quase todas baseadas em astronautas ou no que quer que pudesse haver de concepções futuristas. Mas uma colega minha do 5º ano (hoje, distinta Designer de Moda em Estocolmo) explicou-me, via e-mail, o quão enganado estava (obrigado F.). E realmente…penso nos bonés, nas boinas e nos chapéus (se na cidade metade do que se põe na cabeça se usa por estilo, no campo, faz-se por zelo), nos xailes e écharpes, nos ensebados e nas samarras, nos lenços na cabeça e na lapela ou nas pequenas fortunas que gastamos em botifarras que lembram o calçado de quem lavra a terra…
Quando entrei na faculdade eram frases como esta que mais sofisticação delegavam no mundo rural. Em pleno confronto directo para ver quem mais doses de charme lançava sobre uma mesma miúda lá me ia safando com um “Sei de um monte giro, não muito caro. [No meu Fiat (com leitor de K7) sem ar condicionado mas com os dois vidros bem abertos] estamos lá em pouco mais de duas horas”.
Os tempos são outros (o carro e o rádio não), o mundo rural é agora visto de uma forma cool, sofisticada. Voltámos a valorizar o conceito de “tradicional”, enaltecemos uma catrefada de vezes que isto ou aquilo é feito à mão, plantamos hortas no meio da cidade (e os nosso amigos acham o máximo), preferimos comida natural a corantes e conservantes e estamos dispostos a pagar (e às vezes muito) para que famílias de agricultores partilhem connosco o seu modo de vida. O conceito de Pousada compete, ombro a ombro, com hotéis de porteiros de fraque e cartola, eu já ganho vergonha na cara quando não consigo reconhecer a planta que o meu avô tem no seu alpendre (e ele pergunta sempre, meio gozão, “com que então julgavas que a batata vinha do pacote, não era?”), percebemos que não conhecer o Vale do Douro deverá ser motivo de maior embaraço que nunca ter passado férias na Praia da Rocha e, de repente, queremos lá nós saber que a água de Sagres seja gelada e achamos de longe maior encanto às praias vicentinas que àquelas que ligam Vilamoura a Albufeira.
A moda não é autista e se toda a gente lhe diz que “O mundo rural é que esta a dar” ela debruça-se sobre ele. Confesso que não estava bem certo disso e que ainda vivia um bocado na ideia (e no preconceito) de que as colecções eram quase todas baseadas em astronautas ou no que quer que pudesse haver de concepções futuristas. Mas uma colega minha do 5º ano (hoje, distinta Designer de Moda em Estocolmo) explicou-me, via e-mail, o quão enganado estava (obrigado F.). E realmente…penso nos bonés, nas boinas e nos chapéus (se na cidade metade do que se põe na cabeça se usa por estilo, no campo, faz-se por zelo), nos xailes e écharpes, nos ensebados e nas samarras, nos lenços na cabeça e na lapela ou nas pequenas fortunas que gastamos em botifarras que lembram o calçado de quem lavra a terra…
Estaria a dar-vos uma grandessíssima tanga se dissesse que tudo isto me ocorreu quando, naquele fim de tarde abafado, acabado de sair da bonita Igreja onde se casou a Filipa e o João, avistei este senhor com as suas ovelhas – queria escrever o seu nome completo, tal qual mo disse a mim, mas não encontro o papel onde anotei nome e morada e sempre me ensinaram que, não devo trata alguém que não conheço bem, apenas pelo seu nome próprio. Pensei apenas que não era todos os dias que tinha a oportunidade de fotografar um homem com o seu rebanho. Parei o carro e fui-lhe falar. Achei que recriava na perfeição a personagem colectiva que tinha em mente. Agora, resta-me reencontrar a sua morada e cumprir com o prometido – enviar-lhe a fotografia que tenho aqui ao meu lado (ou se preferirem... "à minha beira")
31 comentários:
Lembras-te de ter mencionado falta de substância, há uns comentários atrás? Ignora. Estás, oficialmente, reconciliado com o espírito essencial do blog. :)
Well done.
Podemos encontrar referências e inspirações em qualquer sítio e não necessariamente numa rua no centro da cidade ou na montra de uma loja.Quantas vezes olhamos para uma pessoa mais idosa e achamos realmente que aquele lenço que ela leva nos ombros de padrões florais fantásticos (que provavelmente já terá para aí uns 30 anos) ou aquele casaco de malha com um ponto especial e característico da altura se poderiam adequar perfeitamente ao nosso guarda-roupa porque se tornaram actuais novamente e o que nós não daríamos para o ter...
Realmente não se deve desvalorizar ninguém nem mesmo as pessoas do campo porque existem coisas fantásticas e especiais em todos os sítios.
O meu Pai usava boina por isso esta imagem é particularmente especial para mim.
GOSTEI MUITO DESTE POST.
SOU UMA LEITORA RECENTE MAS VOU FICAR FIEL...
Para complementar o tema, só mesmo lendo a Monocle do mês de Junho!
"Monocle jumps on its tractor this month for a global survey of farming and good food..."
Tu estás à frente meu caro!
AVAN
Este sr. está todo vestido de branco (como o outro SENHOR), algo fora do comum para quem anda no meio rural a pastar ovelhas, de uma forma geral é muito mais provável encontrarmos alguém vestido com cores escuras.
Gosto!
Sinceramente gosto mais quando a moda se inspira numa história, época ou local do que quando tenta à força ganhar o ar de moderno e futurista com roupas impossíveis de usar (e até de se gostar).
Não esquecer de mandar a foto ao senhor! :)
gostei mt das tuas últimas fotos. tanto o sr.nicolau como este sr. de branco têm fotografias cheias de alma.
os txts, como sempre, tb.
parabém again :D
bisous!!!
Eh pah ainda agora postaste e já comments recusados?? só espero que não seja de um ex-namorado da filipa... Um abraço pah
Thank God que alguem diz ensebado como eu! A mania de dizer encerado é de rebolar a rir (qd toda a gente devia saber que o que se poe nos casacos é sebo e não cera lol)eheheh Nice post!!
Rita
Bom trabalho alfaiate! Esse "olho" está cada vez melhor!
Estou à espera do dia em q sejas entrevistado na TV... vais ser famoso...
Sei que não é o mais importante para ti... mas vai ser inevitável.
Beijos, bom fds,
AC
Quem não tem blogs não deve saber mas quando aparece a mensagem “comentário removido pelo autor” significa que foi o autor do comentário (e não do blog) que o removeu
É o apelo ás origens, áquilo que de mais autentico e natural temos. Para mim, que lido diáriamente com esta realidade, que todos os dias me cruzo com pastores, carroças, que vejo uma raposa a atravessar a estrada e grifos a planar, acho que a beleza desta foto está na sua autenticidade. Obrigada pela sua ousadia em publicá-la num blog onde já se comentaram botões de punho e gabardinas Burberry. A vida é feita de tudo, não é? É por estas e por outras que todos os dias cá venho espreitar e quase sempre comentar. Foi uma grande descoberta o seu blog. Obrigada Alfaiate. Isabel I
Adorei o teu blogue. Tem alma.
Vou pôr o teu link na minha barra de favorits. Pena que tu não és 'sapo' senão adicionava-te como amigo.
Muito, muito bom.
Fátima
Tornas tudo tão belo...
http://maufeitio3.blogs.sapo.pt
Cheguei hoje aqui. Adorei e já sou fiel.
beijinhos e bom fim-de-semana
é impossivel passar despercebida aos textos e fotos que postas no teu blog... as fotos são sempre de qualidade, mas a máquina tambem ajuda! enquanto que os textos, é um dom, digo :)
espero que um dia venhas de visita a guimaraes e me apanhes na rua (risos)
É notório o ar "gasto" e cansado e a expressão dura de homem do campo na primeira foto, aligeirado pelo facto de estar vestido todo de branco... é um contraste curioso. E as mãos largas, escuras e cheias de rugas fazem-me lembrar as do meu avô.
Beijinhos grandes!
Grande texto a acompanhar uma fotografia de grande sensibilidade.
Foge totalmente do óbvio e isso é que torna o teu trabalho tão bom!
Óptimo post!
Cada dia gosto mais do seu blog pois o mesmo fala de pessoas, pessoas autênticas e isso muito me fascina.
Além do mais fotografas muito bem.
Parabéns!!!
Boa foto e muito boas considerações sobre a influência inevitável do mundo rural.
este post desperta-me sentimentos difusos
Quando me lembro que uma vez nos Açores vi um agricultor com as calças por dentro, como nós usamos as nossas "botifarras", penso na fantastica foto que daria... aí estava mais uma prova da moda do campo a ditar tendencias ;)
Este blog é muito bom.
Como disse a Fátima "Tem alma"
Parabéns
Ana Mel
Adorei o blog. Adorei as fotos. É bom saber que em Lisboa também se vê moda :)
acho que vou passar mais vezes por aqui ;D
beijinhos *
eu gosto de todos os posts, caso contrário não os publicaria. mas há aqueles que me são mais queridos. este é um deles. talvez por isso queira agradecer a todos os que vieram aqui comentar
aos que acham que me reconciliei com o espírito que definiram para o blog, aos que recordaram familiares ao ver estas imagens, aos que acharam pertinente este tema, aos que me congratulam por não confundir cera com sebo, aos que me profetizam muitos sucessos, aos que me gabam eventuais ousadias, aos que encontram alma no Alfaiate, aos que me lembraram do Rei Midas, aos que ficaram fiéis à 1ª visita e a todos os outros (incluindo aqueles a quem este post despertou sentimentos difusos)
(muito) obrigado
Este blog tem feito bem.
É o que tenho a dizer, caro Alfaiate.
Mas melhor que me faça bem a mim e a todos os que comentaram antes de mim e em todos os outros posts, é mesmo que te faça bem a ti, ao autor.
Gosto tanto de saber que há quem sai do carro propositadamente para ir falar ao pastor. Que há quem pare só para degustar um pouco de uma conversa simples.
O blog é um projecto engraçado só por si, mas vê-se que está a puxar por ti :o)
Impele-te a fazer coisas que se calhar não farias naturalmente.
E o contacto com estas pequenas grandes coisas enriquece-nos a todos: a ti, ao blog e, por conseguinte, a nós que te lemos e vemos.
Obrigada eu! Arrisco mesmo em dizer "Obrigada Nós!" ;o)
keep up the good work!
Tenho especial carinho pelas gentes do alentejo.
Passei uma temporada da minha vida em incursões frequentes ao alentejo litoral e desde então sou fã de tudo, desde a comida, as pessoas, as magnificas paisagens...
Esta foto faz em lembrar o "Ti Marcelino", o senhor da mercearia do Cabo Sardão, que infelizmente ja faleceu.
A parte que mais me diverte nos mais "cotas" ´é a sua tendência a inventar novos tempos verbais tais como "sim, ele idem por ali" ou o tão famoso "tomchóste" (então, mas o que é isto) :D
O texto está optimo, como sempre!
*
"à minha beira " é uma expressão deliciosa e uso-a quase sempre ao invés do "ao pé de mim". Antigamente, as Marias nunca eram Marias, eram sempre o segundo nome. Era uma vergonha ser Maria. Hoje está na moda ser Maria.
cruzo-me muitas vezes com esse pastor!
;)
Parabéns pelo excelente blog!
Alentejo, meu Alentejo...
Este blog é muito bom. Jà està ! Sou tua fã !
Amanhã falo de teu trabalho no meu blog ( francês )...
Parabens !
Mia in TERRA LATINA
( Natalia )
http://terralatina.over-blog.com/
Este senhor veste de branco por ser pintor para além de tratar do seu rebanho. Gostei. Não só pelo trabalho mas por simpatia de vizinho.
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