domingo, 29 de novembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
Mind the gap Kalaf
A culpa é da minha avó. A sério. Não há sítio onde vá que não meta conversa com x, interpele y ou faça sugestões a z. Fui buscar-lhe essa tara [não se preocupem com a minha avó, vai adorar que fale nela na mesma medida que adora chamar a si a responsabilidade de metade dos meus traços de personalidade; e, em abono da verdade, cabe-lhe a ela boa parte da responsabilidade de, algures na minha base genética ou experiência, ter encontrado motivos para iniciar este blogue]. Simplesmente sou mais contido. Só me dá para isso em viagem. Quem se lembra de alinhar comigo em férias tem sempre uma boa meia dúzia de episódios semi-embaraçosos que apenas não o são mais, apenas por isso...porque estamos de férias
O Kalaf não engana. É tão simpático no trato quanto à vista. A primeira coisa que me disse quando deu por falta do casaco que tinha ficado no avião foi:
- Fica com o meu número para fazermos a foto amahã.
Respondi-lhe que não se preocupasse com o meu conceito de fotos na rua. Que a tirava logo ali. O resultado está à vista. O Kalaf devia estar a adivinhar. Saiu desfocada. Os Buraka tocam hoje em Manchester. Break a leg Kalaf
O Kalaf não engana. É tão simpático no trato quanto à vista. A primeira coisa que me disse quando deu por falta do casaco que tinha ficado no avião foi:
- Fica com o meu número para fazermos a foto amahã.
Respondi-lhe que não se preocupasse com o meu conceito de fotos na rua. Que a tirava logo ali. O resultado está à vista. O Kalaf devia estar a adivinhar. Saiu desfocada. Os Buraka tocam hoje em Manchester. Break a leg Kalaf
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Palavra de escoteiro
Fui escoteiro e escuteiro. Quem foi um dia um deles percebe a diferença. Os outros percebem o essencial – que algures na minha pré-adolescência usei um lenço colorido ao peito e calcei umas meias compridas que prendia com o elástico das jarreteiras.
Há uns dias, em conversa com um cliente que é dirigente escutista, faltou-me energia para o contrariar. Dizia ele, sabendo do meu passado de lenço ao peito, que achava a indumentária escutista desactualizada. Que percebia que os jovens não se revissem naquele fardamento e que, em tempos em que a imagem parece contar quase tanto quanto a substância, dificilmente sentiriam o apelo escutista. À excepção do dia em que a Mariana Cardoso me chamou betinho quando passei por ela de mochila às costas, senti-me sempre bem de lenço ao peito. E para vos ser franco, se tomarmos como excepção que confirma a regra esse dia em que a minha personalidade se vergou perante os lindos olhos da Mariana, achei-me sempre um miúdo sexy naquela farda – a única que tive verdadeiro prazer em usar.
O Francisco e o Luís pareceram-me bem orgulhosos dos seus uniformes. Lembraram-me que nunca na vida vou cuidar de uma gravata como cuidei daquele lenço. E deixaram-me saudoso daquelas noites à volta da fogueira em que cantávamos o menina estás à janela, o dunas, a versão portuguesa disto e uma mão cheia de hits dos Resistência. Disso e daqueles olhares cúmplices que, por entre as achas da fogueira, deixavam no ar o desejo de um primeiro beijo à socapa, entre o último chichi da noite e o caminho para a tenda. Vou-vos ser sincero. A minha saída dos escuteiros não foi das mais épicas. Fui suspenso. Perguntaram-me o que achava e voltou a faltar-me a mesma energia que já me havia falhado no início do post. Mas senti saudades. Da fogueira, do lenço e das jarreteiras. Ainda sinto. A sério. Palavra de escoteiro
Há uns dias, em conversa com um cliente que é dirigente escutista, faltou-me energia para o contrariar. Dizia ele, sabendo do meu passado de lenço ao peito, que achava a indumentária escutista desactualizada. Que percebia que os jovens não se revissem naquele fardamento e que, em tempos em que a imagem parece contar quase tanto quanto a substância, dificilmente sentiriam o apelo escutista. À excepção do dia em que a Mariana Cardoso me chamou betinho quando passei por ela de mochila às costas, senti-me sempre bem de lenço ao peito. E para vos ser franco, se tomarmos como excepção que confirma a regra esse dia em que a minha personalidade se vergou perante os lindos olhos da Mariana, achei-me sempre um miúdo sexy naquela farda – a única que tive verdadeiro prazer em usar.
O Francisco e o Luís pareceram-me bem orgulhosos dos seus uniformes. Lembraram-me que nunca na vida vou cuidar de uma gravata como cuidei daquele lenço. E deixaram-me saudoso daquelas noites à volta da fogueira em que cantávamos o menina estás à janela, o dunas, a versão portuguesa disto e uma mão cheia de hits dos Resistência. Disso e daqueles olhares cúmplices que, por entre as achas da fogueira, deixavam no ar o desejo de um primeiro beijo à socapa, entre o último chichi da noite e o caminho para a tenda. Vou-vos ser sincero. A minha saída dos escuteiros não foi das mais épicas. Fui suspenso. Perguntaram-me o que achava e voltou a faltar-me a mesma energia que já me havia falhado no início do post. Mas senti saudades. Da fogueira, do lenço e das jarreteiras. Ainda sinto. A sério. Palavra de escoteiro
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Madalena Braga
Quando oiço falar em Moda, oiço falar em espectáculos, festas, gajos de corpos torneados e gajas da minha altura. Mas não foram precisos 2 minutos para perceber que o pensamento da Madalena está no outro lado do mundo de tudo isso. Em vez de Milão, Paris ou Nova Iorque falou-me de Xangai, do projecto que a levou à China e do que lá viveu e sentiu. Em vez de eventos e produções falou-me em linhas, tecidos, crochés, materiais reutilizáveis e da máquina de costura que comprou no sul de França. E já com o sorriso que não apanhei na foto falou-me do seu projecto, da reciclagem de materiais, do recurso aos elementos tradicionais portugueses e do vestido que trazia.
A Madalena tem já uma trajectória e um curriculum assinaláveis mas a mim interessa-me o seu projecto. Porque não lhe cheguei a dizer mas tenho um fraco. Tenho um fraco por gente assim. Gente que adora o mundo mas que, quando arregaça as mangas e ajusta as bainhas, se queda por cá. Mesmo quando cá não está. Hoje sim, amanhã não sei. Mas de uma forma ou doutra o seu trabalho fica connosco. Aqui
A Madalena tem já uma trajectória e um curriculum assinaláveis mas a mim interessa-me o seu projecto. Porque não lhe cheguei a dizer mas tenho um fraco. Tenho um fraco por gente assim. Gente que adora o mundo mas que, quando arregaça as mangas e ajusta as bainhas, se queda por cá. Mesmo quando cá não está. Hoje sim, amanhã não sei. Mas de uma forma ou doutra o seu trabalho fica connosco. Aqui
domingo, 22 de novembro de 2009
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
terça-feira, 17 de novembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
Windclub - Il Milanese
Excepção feita à excitação inicial com o primeiro artigo na Time Out e não voltei a maçar-vos com convites para programa de televisão x, estação de rádio y, ou jornal z. Mas desta vez é diferente. É uma coisa pequena, simples e discreta. E é precisamente por isso que, mais que me gabar, gostava de a partilhar com quem aqui passa. Este blogue tem, a partir de hoje e durante 2 meses, uma pequena exposição no Windclub em Oeiras. E foi com um orgulho particular que vi alguém lembrar-se que, aquilo que aqui faço, valia a pena ser exposto.
Hoje almocei por lá e certifiquei-me que, caso cheguem à conclusão que nem as fotos nem os textos valem a visita, a degustação de pastas do Chef Paolo Pasquini justifica a viagem. Quanto aos posts emoldurados...não estão obviamente à venda. Estão sim, a partir desde mesmo momento, prometidos a cada um daqueles que lá aparecem. E a verdade é que, num dia feio como este, aquelas molduras (e o bonito prefácio que me escreveram) me asseguram um sorriso...um belo sorriso de Domingo
Hoje almocei por lá e certifiquei-me que, caso cheguem à conclusão que nem as fotos nem os textos valem a visita, a degustação de pastas do Chef Paolo Pasquini justifica a viagem. Quanto aos posts emoldurados...não estão obviamente à venda. Estão sim, a partir desde mesmo momento, prometidos a cada um daqueles que lá aparecem. E a verdade é que, num dia feio como este, aquelas molduras (e o bonito prefácio que me escreveram) me asseguram um sorriso...um belo sorriso de Domingo
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
So 80´s
Nasci em 1980 por isso, nem que seja para salvaguardar qualquer piada fácil, sou daqueles que tende a defender a importância dos anos 80. Mas no que à aparência e à forma de vestir diz respeito tenho a impressão que passámos os 90 a gozar com os 80. Com as permanentes delas, com a laca deles, com os estampados e as cores berrantes de uns e a ostentação de outros. Mas suponho que em parte da década seguinte a o que quer que seja se perca sempre algum tempo a ridicularizar o que acabámos de fazer. Até porque a chacota sobre aquela década parece terminar quando alguém chama à baila a música e as 1001 colectâneas que se fizeram sobre esses anos. Eu era apenas um miúdo e é provável que as páginas centrais da revista do Correio da Manhã (onde por acaso não abundavam nem roupa nem bom gosto) que folheava discretamente no barbeiro me tenham impressionado mais que a queda do Muro de Berlim, os enchumaços volumosos ou leggings hiper-coloridas. Mas tenho sempre os 80 como uma década vincada. E agora…à boca do seu 30º aniversário, é bem provável que muita da coisa que foi então cool e passou a obsoleta vire moda outra vez. E foi isso que este sueco de boa aparência me fez recordar. Que aquilo que um dia foi tido como bom vai, muito provavelmente, voltar a sê-lo.
Eu acho que a questão que agora se coloca é:
- Quando é que o vocalista dos a-ha – aquele tipo que descobriu o elixir para a eterna juventude – se vai voltar a vestir assim?
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Fábio
Conheci o Fábio aqui. E reconheci-o no seu trabalho, onde entrei, com uma lata que tenho vindo a aprimorar, e lhe perguntei se o podia fotografar. Acho que mais do que pessoas que vestem bem ou mal há, no que ao trajar diz respeito, dois tipos de pessoas. Aquelas que vestem o que querem e aquelas que vestem aquilo que os outros lhes permitem vestir. Eu nunca passei do segundo grupo mas adoro quando encontro alguém do primeiro
domingo, 8 de novembro de 2009
The coolest brothers in town
Ter reflexos ajuda. E eu não os tive em dose suficiente quando passaram por mim pela primeira vez. O Pedro ia agarrado ao telemóvel e o Lourenço já empurrava a porta de casa quando percebi que me tinha acabado de cruzar com os miúdos perfeitos para um primeiro post sobre crianças. Praguejei um bocado e lá subi o resto da rua inconformado por ter deixado escapar entre dedos uma fotografia assim. É que não deve ser tarefa fácil…afinal de contas não me imagino a acenar com a cabeça ao primeiro estranho que me aparecesse à frente a dizer que gostaria de fotografar os meus filhos (e provavelmente se o dito estranho insistisse muito ainda me disponibilizaria para lhe dar umas chapadas)
Por estas e por outras fiquei radiante quando ontem, precisamente duas semanas depois de nos termos cruzado à sua porta, voltei a encontrar o Pedro e o Lourenço no Rossio. Agora, para tudo ser perfeito, só falta mesmo receber um e-mail dos pais, não a ordenar-me que remova daqui a foto, mas a agradecer que enviasse as outras duas ou três que lhes tirei
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Sancha - um vestido "bon chic bon genre", uma montra com um poema de Al Berto e uma vida com garra, dedicada à cidade
De ontem a Domingo os comerciantes do Príncipe Real vão estar abertos das 10h às 23h promovendo os seus espaços das mais variadas formas. O florista Em Nome da Rosa (estes gajos não são nada parvos…vou ao Google e o nome "deles" aparece antes do Umberto Eco) decidiu convidar a minha amiga Sancha Trindade (outra que não é nada parva) para estar na sua montra parte destes dias festivos.
Antes de mais importa dizer que tenho inveja da Sancha. Sempre que falo com ela tem um novo projecto em mãos (ou na cabeça) [ou na imaginação] e isto para um bancário é quase arma de arremesso. Aliás…gosto de pensar que o tempo que demorei a convencer a minha namorada a jantar comigo pela primeira vez está relacionado estritamente como a minha actividade profissional. Imagino o 007 a não sacar uma única gaja se dissesse às tipas que conhece que, nos tempos em que não estava a aquecer a Guerra Fria ao serviço de Sua Majestade, estivesse a tentar aprovar crédito a uma pequenas empresas e a espetar-lhes meia dúzia de produtos financeiros (a sério…queria vê-lo). Mas enfim…nem os simpáticos floristas da Dom Pedro V nem eu somos parvos e não é por acaso que a Sancha ali está e que eu estou aqui, ainda de pijama vestido, a (tentar) escrever uma crónica que lhe faça justiça.
A Sancha está ali porque uma montra pode ser um local privilegiado para alguém que escreve tão apaixonadamente por Lisboa, observe atentamente aqueles que cá vivem e aqueles que por cá passam. E é a isso que se tem dedicado a Sancha – a escrever sobre Lisboa. Seja, na revista Única do Expresso, na GQ ou no Lisbon Golden Guide (e noutros tantos sítios que agora não me lembro e que não tenho tempo para ir pesquisar). Mas vá…no fundo no fundo não é por nada disso que a Sancha está aqui. Nem sequer pelo bonito vestido com que a BCBG a vestiu. A Sancha está aqui porque, muito antes de me passar pela cabeça ter um blogue (quanto mais chamar-lhe Alfaiate), me motivou a fazer alguma coisa. Alguma coisa minha, feita por mim e para mim, fosse ela, gerar ou não, uma "margem financeira" entre o tempo que nela se despende e os dividendos que dela se tira. Hoje, essa coisa dá pelo nome deste blogue. E, algures lá num momento distante, estavam as palavras da Sancha, desta feita não sobre a cidade mas sobre aquilo que eu devia fazer da vida. E assim encerro uma semana dedicada (e só agora me dei conta) aos projectos de 3 mulheres. Uma filha, um livro e uma cidade. Encerro-a com Lisboa na ponta dos dedos
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Maria Guedes
Sim eu sei. Tem uma granda pinta. Mas a verdade é que a Maria não está aqui tanto pela sua pinta como por aquilo que se dispõe a fazer pela pinta alheia. A forma mais correcta de a apresentar seria provavelmente como fashion adviser ou personal stylist mas a quantidade de textos delico-doces que já escrevi por aqui já não me dão margem para termos amaricados. Ou seja, para mim a Maria é, em primeiro lugar, uma gaja porreira (a minha irmã disse-me que eu não devia escrever “gaja” mas eu não tenho culpa que os meus pais tenham aprimorado mais a educação dela que a minha). Segundo, é alguém com visível legitimidade para dar uns bitates sobre a aparência alheia e terceiro, alguém com uma enorme sensibilidade estética. A Maria aposto, é daquelas raparigas que sempre teve mais olho para os trapos que as amigas. A quem, naquelas duas ou três semanas de férias no Algarve, as amigas iam pedir não sei quantas dicas e uma resma de peças de roupa emprestada. Alguém que desde cedo, olhava os familiares de alto a baixo e formulava os seus próprios juízos sobre se, naquele dia, estavam mais ou menos “estilizados” do que aquilo que era costume. E imagino a Maria, muito objectiva, a passar por uma montra e a discernir com um breve olhar o que realmente importa daquilo que não lhe interessa – e de resto, já pensaram na quantidade de coisas importantes para o destino da humanidade que podemos fazer se nos despacharmos a escolher roupa?
Dizer que não se importam com a forma como aparentam já não pega. Quem é que não se preocupa com o que veste, com o que parece e com a forma como é visto? Podia ir sacar à net excertos de 1001 tratados sociológicos, alguns mais maçudos, outros mais interessantes, de não sei quantos académicos com quocientes de inteligência impressionantes, que juram a pé juntos que o senso e a verdadeira percepção do Eu só aparecem em função daqueles que nos rodeiam e da forma como estes nos vêem. A forma como nos vestimos é apenas mais um exemplo disso mesmo e não adianta negar que todos sentimos uma disposição, um conforto e um bem-estar diferentes quando nos sentimos bem com aquilo que trazemos por cima do corpo. Até porque a sensação é boa, e como tudo o resto que é bom, depois de experimentar, ninguém quer prescindir de voltar a sentir. E a Maria, cheira-me, conseguirá experimentar essa sensação – e dá-la a experimentar – muitas mais vezes do que a esmagadora maioria de nós.
Não vou gastar muito tempo com o facto de a Maria ter estado numa escola de moda xpto, ter participado no New York Fashion Week e ter já um curriculum simpático a vestir gente exigente com aquilo que veste. Para quem estiver curioso sobre isso tudo fica aqui o link e mais uns valentes milhares de resultados em qualquer motor de busca. Eu prefiro concentrar-me nas empatias engraçadas que se estabelecem entre as fotografias que tiro e meia dúzia de factos concretos. Por ora, falo-vos no livro que a Maria lança oficialmente amanhã. Tanta Roupa e Nada para Vestir. Acho que com ou sem o “tanta roupa” já toda a gente se sentiu sem "nada para vestir" para ocasião x ou y (acho que vou começar a recorrer a incógnitas…quase que conferem um fundo científico às parvoíces que aqui escrevo). Podemos sempre dar uma de blazés e fingir que isto não é nada connosco mas acho que dá muito menos trabalho assumirmos que, grande parte de nós, aceitaria de bom grado uma dica ocasional. O Alfaiate não vai virar páginas amarelas mas, no que diz respeito à Maria, estou contente por a ter aqui. E para que não fique link por explorar, deixo-vos o mais óbvio mariaguedeslisboa.blogspot.com.
Dizer que não se importam com a forma como aparentam já não pega. Quem é que não se preocupa com o que veste, com o que parece e com a forma como é visto? Podia ir sacar à net excertos de 1001 tratados sociológicos, alguns mais maçudos, outros mais interessantes, de não sei quantos académicos com quocientes de inteligência impressionantes, que juram a pé juntos que o senso e a verdadeira percepção do Eu só aparecem em função daqueles que nos rodeiam e da forma como estes nos vêem. A forma como nos vestimos é apenas mais um exemplo disso mesmo e não adianta negar que todos sentimos uma disposição, um conforto e um bem-estar diferentes quando nos sentimos bem com aquilo que trazemos por cima do corpo. Até porque a sensação é boa, e como tudo o resto que é bom, depois de experimentar, ninguém quer prescindir de voltar a sentir. E a Maria, cheira-me, conseguirá experimentar essa sensação – e dá-la a experimentar – muitas mais vezes do que a esmagadora maioria de nós.
Não vou gastar muito tempo com o facto de a Maria ter estado numa escola de moda xpto, ter participado no New York Fashion Week e ter já um curriculum simpático a vestir gente exigente com aquilo que veste. Para quem estiver curioso sobre isso tudo fica aqui o link e mais uns valentes milhares de resultados em qualquer motor de busca. Eu prefiro concentrar-me nas empatias engraçadas que se estabelecem entre as fotografias que tiro e meia dúzia de factos concretos. Por ora, falo-vos no livro que a Maria lança oficialmente amanhã. Tanta Roupa e Nada para Vestir. Acho que com ou sem o “tanta roupa” já toda a gente se sentiu sem "nada para vestir" para ocasião x ou y (acho que vou começar a recorrer a incógnitas…quase que conferem um fundo científico às parvoíces que aqui escrevo). Podemos sempre dar uma de blazés e fingir que isto não é nada connosco mas acho que dá muito menos trabalho assumirmos que, grande parte de nós, aceitaria de bom grado uma dica ocasional. O Alfaiate não vai virar páginas amarelas mas, no que diz respeito à Maria, estou contente por a ter aqui. E para que não fique link por explorar, deixo-vos o mais óbvio mariaguedeslisboa.blogspot.com.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Ana, uma gravidez colorida e uma história que não me cansei de contar
Nunca dou grande crédito quando alguém me diz que houve determinado dia que mudou a sua vida porque A se cruzou com B enquanto C ia para cama com D que por sua vez se desiludiu profundamente com E. Mas a verdade é que não tenho grande legitimidade para me pôr com cepticismos extremos em relação a esoterismos alheios que eu também tenho a minha meia dúzia de momentos que, por um motivo ou por outro, marcaram o que estava para vir depois. Lembro-me, lá para meados de Abril do ano passado, a Time Out ter dedicado um número ao engate (hei-de pensar num sinónimo que não nos ponha logo a pensar em dois estranhos em cima um do outro), às 1001 formas de se poder conhecer pessoas interessantes e aos sítios que aquela redação achava mais indicados para que isso acontecesse. Lembro-me de achar que o editorial desse número parecia recear que o artigo não fosse levado a sério. Não era necessário. Eu levo a sério o momento em que meto conversa com alguém. Afinal de contas, não precisei que ninguém me apresentasse a minha namorada para lhe ir falar um dia. Momentos como esses, abordagens rápidas, às vezes meio suicidas, podem marcar uma vida ou, ao menos, parte dela. Estou-me a lembrar também que conheci a minha melhor amiga (aquela a quem atendo o telefone quando estou sentado na retrete) numa festa do caloiro da faculdade de um amigo meu. Quando um de nós meteu conversa com o outro pela primeira vez, não lhe ocorreu certamente que teria ali um amigo para a vida. O flirt, para além das primeiras ideias que nos atropelam desde logo o pensamento: da promiscuidade, da sedução, da tensão sexual e de meia dúzia de hormonas aos saltos; é às vezes a única forma possível de um rapaz e de uma rapariga iniciarem uma amizade
(conto-vos a história sobre como conheci a Ana porque acho que mudou para sempre a forma de me relacionar com as mulheres)
Era o último dia de aulas e tinha-me prometido que o dia não chegaria ao fim sem tentar fazer algo. Dificilmente sairia dali alguma coisa brilhante mas no que a raparigas diz respeito sempre achei que aquele adágio do “antes arrependeres-te do que fizeste que do que deixaste por fazer” ganhava toda a propriedade. Percebi que ela ia sair do liceu. Tal qual o dia anterior calculei o tempo que ela levaria a chegar à saída pelo caminho apenas acessível a professores e funcionários e tal qual o dia anterior cruzámo-nos junto ao portão. Segui-a a uns metros de distância e tentei perceber de imediato onde estava estacionado o carro, o mesmo cuja matrícula me continuo a lembrar dez anos depois. Já depois deste episódio, posso ter sentido algum entusiasmo ou agitação, mas não me recordo de ter voltado a sentir o coração bater a uma velocidade daquelas por causa de alguém que não conheço. Estava prestes a meter-me com uma professora do meu liceu e mesmo que dali em diante apenas me arriscasse a cruzar com ela num dos exames nacionais a que estava inscrito não deixava de me arriscar a fazer uma tremenda figura de parvo. Pouco antes de ela chegar ao carro abordei-a. Entre os disparates que balbuciei na altura só me lembro de atropelar palavras sobre palavras e de me sair qualquer coisa como “não podia deixar que o ano terminasse sem vir falar consigo”. A Ana já tinha a porta do carro aberta e perguntou-me, com um olhar que não deixava perceber o que estaria a achar de tudo aquilo:
- Mas então não tem nenhum assunto para tratar comigo?
Abri os braços e enquanto abanava a cabeça disse:
- Não professora. Bem que me dava jeito ter uma desculpa para falar consigo mas não tenho
Ainda hoje recordo este episódio com uma gabarolice descomunal. E ainda ontem disse à Ana (como digo quase sempre que a vejo) que aquele dia mudou a minha forma de me relacionar com o sexo oposto. Mas ela nunca me leva a sério. Acho que hoje, dez anos volvidos e a menos de dois meses de ser mãe, vai finalmente levar
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