Acho que, em miúdo, a minha concepção de “estar bem vestido” me transportava, directamente, para um dado momento envolvido numa dada formalidade integrando, muito provavelmente, um dado evento realizado para celebrar uma dada ocasião. Ter-me-á, provavelmente, sido transmitido por uma avó ou uma amiga através de um comportamento mais ou menos efusivo, mais ou menos alambazado, num dia em que tivesse o cabelo irrepreensivelmente penteado e em que, eu mesmo, pelas opções que eu ou os meus pais tivessem tomado no que à minha indumentária diz respeito, me sentisse... mais “bem vestido”. Algures no liceu ter-me-ei deparado com o conceito de “ter estilo” e uns quantos sinónimos em jeito de calão (uns mais ridículos que outros) que, imagino, conferissem por essas alturas um dado capital social a quem as proferisse. E “estar bem vestido”, “ter estilo” ou o que quer que queiramos chamar a alguém que, pela forma como se apresenta diante de nós, nos cativa visualmente (por motivos que extravasam, objectivamente, uma dada anatomia corporal ou facial) deixou de, na minha cabeça, ser prerrogativa de um determinado momento, ocasião ou formalidade. E quantas vezes me diziam “devias era fotografar aqui ou ali porque as pessoas vão assim ou assado” quando é, precisamente, nos sítios onde há uma expectativa de encontrar pessoas que perderam mais tempo que o costume a pensar no que hão-de vestir que menos vontade tenho de fotografar. E é precisamente por causa desta lógica que esta fotografia me fazia falta há tanto tempo. Provavelmente desde que, no paredão de Carcavelos, me havia cruzado com um casal de amigos que me tinha deixado a pensar qualquer coisa como “até a transpirar aqueles sacanas têm pinta”. E é curioso porque foi justamente quando estava a transpirar com o mesmo casal que me havia deixado a pensar nessa imagem (diametralmente oposta àquela que, em miúdo, esmagado entre beijinhos e amassos, me fazia ouvir “estás tão lindo”) que vi a Sara e lhe disse que – por mais estranho que lhe pudesse parecer – gostaria de lhe fazer uma foto. E não queria fazê-lo num outro contexto qualquer. Queria fazê-lo, precisamente, à saída do ginásio
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