Foi com o Luigi que senti isto pela primeira vez. Senti algo diferente. Senti que teria que passar muito tempo até voltar a ver alguém assim. Não se trata simplesmente de ver alguém bem vestido. Há um sentido maior na estética de algumas pessoas. Porque no fundo é isso que eu fotografo. Aquilo que tenho por belo. Sem tretas nem preceitos.
Alguém no outro dia questionava, numa indelicadeza delicada (a menos delicada de todas elas), se não me causava aflição debruçar-me sobre temáticas tão superficiais. Perguntei-lhe, não pelos motivos que o levaram a comprar o relógio que tinha no pulso ou o carro que estacionou a meu lado mas porque – nesse encontro de amigos em torno do nado-vivo que ali era exibido – o único comentário que havia proferido acerca da criança ter sido relativo à sua beleza. Perguntei-lhe (empregando o mesmo preceito retórico que ele me havia aplicado) se, perante algo tão belo quanto o nascimento de um ser, não seria um tanto ou quanto superficial partilhar a sua felicidade com aquele casal amigo através de um apontamento estritamente estético. E dei-me conta de, para lhe fazer sentir isto, ter sentido necessidade de empregar o termo “belo”. E disse-lhe, num tom semi-condescendente, semi-trocista:
- Perdoa-me. Não tenho emenda.
O belo pode ser encontrado no momento final em que acabamos de lavar o nosso carro, fazemos a cama, arrumamos a porcaria do quarto ou preparamos a mesa para receber os nossos convidados. Podemos encontrá-lo num beijo, num abraço ou até num qualquer tom de voz melodioso que nos parece afagar a pele.
Eu encontro o belo sempre que tomo um recém-nascido nos braços. Não porque encontre naqueles pequenos seres de pele enrugada a melhor fórmula para uma harmonia pictórica mas, tão simplesmente, pelo belo que é possível encontrar no enquadramento daquela criatura nas mãos e a presença, desfocada, num segundo plano da imagem concebida pela minha própria retina, dos sorrisos de seus pais. Sinto o belo até, quando, pela manhã, escuto os Sinais de Fernando Alves. Mas podemos senti-lo também, como ocorreu comigo, no momento em que nos cruzamos com alguém e sentimos que há algo de maior naquela visão. E foi isso que senti quando vi a Susana, o Luigi e tantosoutros. Senti que havia ali algo maior. Muito maior