Soube da existência do Ayres por causa dum e-mail que me enviou um dia que passei por Londres, a cidade onde vivia na altura. Este alfaiate portuense escreveu-me com a familiaridade de quem partilha comigo uma cidade, um país, uma bandeira, um hino ou a língua que aprendemos à nascença. Com a mesma familiaridade de quem, longe de casa, escuta o seu idioma nas costas e se volta de mão estendida e sorriso nos lábios
O que provavelmente não desconfia quem visita este blogue é que ele não nasceu da fotografia. Nasceu das palavras. As fotos vieram mais tarde pela sugestão de um amigo que me mostrou o meio mundo que andava a fotografar a outra metade por essas ruas fora. Mas eram as palavras – sabia-o eu – que estariam na base do tal projecto ao qual ainda não conhecia nome nem imaginava forma. E esse foi o principal motivo pelo qual aceitei o desafio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Porque foi a palavra – a palavra em português – a mesma que une cada um dos seus oito países membros (Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), que me trouxe aqui um dia
O desafio da CPLP era simples. Que recreasse a minha visão de cada um destes países através dos protagonistas que fotografasse. Porque cada um dos fotografados tem um encanto mui próprio. Porque cada um deles tem o seu peculiar sotaque, olhar, tom de pele ou textura capilar mas todos eles partilham a minha língua. Porque é da língua que se traçam os contornos sobre a forma como se vê o mundo. Porque da minha língua... “Da minha língua vê-se o mar” (Vergílio Ferreira). Da minha, do Kalaf, da Maida, do Lisandro, da Eurizanda, do Ayres, da Ana e da Sónia, da Iracema e da Anna também. Da língua de todos nós se vê o mar. Bem à vista... aqui