Houve um momento em que se tornou claro. Ela escreveu-me a dizer que tinha sido ele quem lhe tinha mostrado este blog. Tinha tido seguramente outros feedbacks que me tinham deixado sensibilizado mas aquele foi diferente. A vida e a morte são temas sensíveis, temas que não puxamos apenas porque não nos ocorre nenhum outro. E no entanto ela fez questão de mo dizer, fez questão de me escrever. Pode ter havido outros momentos. Uma fotografia mais poética ou um texto mais sentido que tenham gerado um ou outro surto momentâneo de correspondência mas não tinham passado disso mesmo, de meras efemérides estatísticas. Mas ali foi como que uma revelação. Explicou-me porque é que (aquele post) os tinha marcado e, mais delicado ainda, porque é que ainda marca. E aí percebi que tinha entrado na vida de alguém. Eu podia ter suspeitado antes. Tudo o que tem acontecido por causa deste blog foram coisas que, com muita ou pouca antecedência, tive sempre a capacidade de as prever. Previ-as simplesmente porque gosto disto e, mais que tudo, porque acredito nisto. E houve alturas em que fiquei com a sensação que tinha essa capacidade de chegar às pessoas. Mas não era mais que uma desconfiança ou simples palpite. Nada mais, até àquele dia em que ela me escreveu sobre ele
Sempre que respondo a umas perguntas a alguém com um bloco de notas e um gravador à frente digo sempre o mesmo mas eles nunca acreditam. Querem saber quantas pessoas cá vêm por dia, se já ganhei muito ou pouco dinheiro com isto, se invejo os bloggers estrangeiros que se sentam na 1º fila dos desfiles das semanas da Moda ou se me reconhecem na rua. E eu vou-lhes dizendo cabisbaixo...“as pessoas”. Talvez a Gabriela tenha ouvido, e desconfio que o Aurélio e o João também. Mas os demais? Duvido. Mas eu disse a todos sem excepção “O que mais me interessa são as pessoas...”. Aquilo que elas vestem ou deixam de vestir é o princípio para tudo mas aqueles que são para mim os momentos altos deste blog transportam-me sempre para as pessoas e não para o que quer que elas tragam vestido. Mas nunca me prestam atenção e tenho dúvidas que sequer acreditem em mim. E penso sempre “se eles tivessem lido aquele e-mail...”. Porque este blog, mais que um blog de roupa, é um blog de pessoas e se assim não fosse duvido que tivessem acontecido metade das coisas que aconteceram este ano. Fosse ver as pessoas que me olharam de forma estranha quando lhes sugeri uma foto serem protagonistas de uma campanha publicitária através da precisa fotografia que estiveram à beira de recusar. Dar com o Alfaiate em coluna de papel no preciso jornal em que eu sempre achei que faria sentido que isso acontecesse ou receber um e-mail de Estocolmo, com uma abordagem da precisa marca cujo percurso dos últimos anos mais admiro. E tudo isto é fantástico mas eu insisto (que) “são as pessoas” (quem mais me marca). E é quando me dizem “a primeira coisa que faço quando chego ao trabalho é ver o seu blog”, “estou sempre à espera dum novo texto seu”, quando - à saída da casa de banho do Lux - um tipo se apresenta e me diz “a minha mulher chama à minha gravata de malha a gravata alfaiate”, quando minutos depois no bengaleiro dou por uma miúda a chegar-se ao meu lado e a sussurrar-me, como que receosa que o mar de gente que está à nossa volta a oiça, “chorei quando li o post da sua irmã”. É isto que mais me interessa. É quanto sinto que entrei na vida das pessoas, na sua esfera privada. Não porque me tenha intrometido ou lhes tenha sequer pedido mas simplesmente porque estas pessoas assim o quiseram. Porque por melhor ou pior que seja o Alfaiate, a sua qualidade (ou falta dela) não reside no seu valor per si. Ela é achada somente naquilo que cada um de vocês lhe reconhece. Porque nada do que eu escrevi ali em cima aconteceu porque as minhas fotografias são giras ou os meus textos engraçados. Aconteceu porque vocês lhes encontram esses atributos. Aconteceu porque vocês, gostem muito ou pouco, digam bem ou mal...aconteceu porque vocês os vêm aqui consumir. Ver, ler, louvar ou criticar. Não vos vou agradecer por cá voltarem. Agrada-me que o façam mas não me vejo incumbido de vos dar nada como retorno. Agradeço-vos sim por aquilo que me fazem sentir. De forma mais ou menos expressa, mais ou menos óbvia. Sinto que me dizem que isto faz sentido, que isto tem um sentido. Sinto que me pedem para continuar. Porque como me disse uma vez uma amiga “Pedir...não é necessariamente no sentido literal, pedir para mim é criar a ilusão no outro que não há outro lugar. Que tu és o lugar, entendes? Isso também é pedir.” E por isso, por criarem essa ilusão em mim, por me fazerem sentir que este é “o lugar”, por isso sim...por isso vos agradeço