segunda-feira, 25 de junho de 2012

Agustín

Agustin

Sete gajos reunidos em torno de uns bifes e umas cervejas. Um dizia que era Los Angeles. “Em L.A. vi as melhores gajas da minha vida”. Outros contrapunham com Nova Iorque, Lisboa, Paris ou Estocolmo. Deve ter havido Moscovo ou Londres ao barulho também. [“L.A.” bramia o outro com a cara em cima do que por azar calhou ao seu lado exibindo aquele defeito irritante – tão bem descrito neste episódio do Seinfeld – dos que não conseguem comunicar com o (nariz do) próximo a mais de 5 centímetros de distancia]. Parecia uma daquelas picardias entre putos em que cada um assegura que o carro do seu pai é mais potente que o dos outros ou que o seu irmão maior é mais valente que os demais. Porque afinal, em cada uma daquelas opiniões havia uma expectativa marialva desejosa de explanar uma narrativa épica de uma qualquer conquista russa, francesa ou americana com desenlace na sua própria cama. E eu, meio convicto meio a medo:
- Madrid, talvez Madrid.

E Madrid tem, verdade seja dita, algumas das mulheres mais bonitas que já vi um dia. E damo-nos conta disso ao percorrer o Barrio Salamanca pelo final destas tardes quentes quando a temperatura ameniza e se consegue andar na rua sem suores ou manchas e nos sentamos numa qualquer terraza e lhes explicamos, em plan de conversa de chacha, porque é que – à semelhança do que sucedeu com uma qualquer armada invencível há mais de 400 anos – talvez lhes corra mal o jogo de quarta-feira. E fazia a Serrano à conversa quando terão passado uma boa meia dúzia dessas mulheres cuja recordação me havia feito pensar em Madrid como a cidade ideal para a tal discussão pueril entre bifes e cerveja. E talvez, por efeito de uma tal banalização da beleza feminina, começasse a não fazer caso dela. Como se já contasse com ela. Como se, ao contactar com ela de forma tão rotineira já a sentisse mais que, simples propriedade da cidade, minha pertença também. E eis que, ao dobrar a esquina  com a Ortega y Gasset, vemos o Agustin. E comento para o lado “parece o Hemingway”. E, se a memória não me falha, disse-lho a ele também que, como já é usual nestes momentos, terá ficado longe de me levar a sério (como também não levou a rapariga que faz capa deste livro, quando lhe proclamei excitado, a minha paixão pela sua fotografia). Mas foi esse o efeito. Um efeito forte. Um efeito sobre quem fica com a impressão de que “este gajo não podia estar simultaneamente tão bem vestido e descontraído”. Tão forte que nos eclipsou. Que nos eclipsou aquela vivência já tão assumida que ganha a forma de direito adquirido de nos cruzarmos com algumas das mulheres mais bonitas desta vida. As tais que me serviam de pretexto para me afastar do close talker e dizer-lhe:

E se há tema que eu e o meu companheiro de passeio levamos muito a sério são mulheres bonitas. Mas naquele preciso momento, através do Agustin, parecia que aquela cidade de mulheres bonitas nos queria dizer que valia mais que isso. Que valia mais que qualquer atributo que lhe justificasse ser evocada para uma qualquer conversa pueril entre bifes e cerveja

23 comentários:

Anselmo Calvo disse...

"I obscenity in the milk!", que é verdade que se parece mesmo com o Hemingway!!! :)

Gija disse...

Olha, eu quando vi a foto, pensei exactamente o mesmo!! Fez-me imediatamente pensar em Hemingway numa perspectiva actual!!!

Lauren@Styleseer disse...

Same here, I thought Hemingway, only more cheerful. I like the joy this guy exudes.

Loreto M. disse...

Nice bloog!!

www.lepeppermint.com

Ostyleblog disse...

Like it!

Sofia disse...

Boa foto! Excelente texto!
http://insofiashoes.blogspot.pt

Luiz Eduardo disse...

A foto por sí dispensa maiores comentários... Explêndida!
abraços,
Eduardo.

Anónimo disse...

GOSTO MUITO DO AGUSTIN E O QUE ME RI COM OS LINKS DO SEINFELD!! =)

Anónimo disse...

parecido com o hemingway? mais ou menos.
parecido com o orson welles? sim.
aliás, o sorriso do agustin podia ser igualzinho ao sorriso do orson welles após uma reunião com um produtor obscuro, que lhe garantiu dinheiro para um filme...igualmente obscuro.

cumprimentos do porto
e um bem haja ao teu blog.

joao castro

David Pascht disse...

Nice blog..had fun reading..:)

Sol disse...

Isso é porque você não visitou Buenos Aires ainda. Aquí moram as mulheres mais bonitas do mundo! ;)

Pericles Pinto disse...

São posts como este que me fazem ter vontade de vir aqui.

Boa foto, texto escrito e... serve para que quem diz que "só fotografa pessoas de uma certa faixa etária" tenha de meter a viola no saco.

Keep up the good work.

http://muitosuave.wordpress.com/

Ana Cristina Milheiro disse...

Gosto de pessoas bem dispostas e com boa atitude!!!

Acho todos gostamos!

É o que esta foto me transmite!

Gostei Muito!!:=))

Cris

Anónimo disse...

A foto té ótima. O sorriso parece genuíno contagiante. Mas será aquilo uma pequena nódoa no polo do sujeito? Or do my eyes deceive me. É que só consigo pensar: fosse o nome do gajo Zé Augusto, não estivesse ele com roupas de boas marcas (ainda que muito sóbrias) e não teria direito a foto neste blog. Se calhar sou eu que sou preconceituosa. Afinal, ainda não vi aqui foto de nenhuma mulher mais "full bodied" e desalinhada.

Anónimo disse...

os barrigudos também podem ser elegantes

Anónimo disse...

Isso mesmo. É preconceituosa (a sra. do dia 3)

Anónimo disse...

No dia em que eu vir, neste blog ou noutro qualquer relacionado com estilo/moda..., uma foto de uma mulher mais gordinha deixarei de me queixar. Os barrigudos podem ser elegantes e ter estilo: concordo plenamente. Tal como os calvos, mais velhos, mais baixos, etc. O estilo e a elegância não podem, nem devem estar apenas associados a uma determinada idade ou tipo físico (ou género). O que tenho pena é que nunca tenha visto aqui uma mulher mais "cheinha". É que também as há com estilo e elegância. Lamento que continue a existir esta dualidade de critérios. Os homens continuam a envelhecer com estilo (quer sejam gordos, magros, calvos,...) e as mulheres limitam-se a ficar velhas. A não ser que se mantenham magras. E eu é que sou preconceituosa? Ass: Sra. Preconceituosa do dia 3

Anónimo disse...

Qual é o livro de que fala?

M. disse...

Acho que ainda ninguém te disse. Grande foto e grande texto:)

Anónimo disse...

p/ catarina r.

O que é que se vê de fora e o que é que se vê de dentro. O que é que se vê com os olhos, e o que se contempla com o coração.
José Tolentino de Mendonça, in O tesouro escondido

José Cabral disse...

anónima do dia 3,

se a interpretação que faz deste post e desta publicação em geral é a de que este senhor, não fosse estrangeiro ou não usasse roupas dispendiosas (curioso como assume um pressuposto bacoco e toma liberdade de o veicular como se de um juízo de facto se tratasse) não estaria aqui... preconceituosa é, muito francamente, o adjectivo mais simpático que me ocorre para classificar a sua intervenção

quanto à questão das formas e volumes das pessoas que aqui aparecem, ficava-lhe bem melhor enviar um e-mail a colocar a questão (à qual responderia com mais simpatia e vontade que a uma mão cheia de acusações desprovidas de conhecimento e identificação)

resta-me recordar-lhe uma coisa. esta página é uma simples página pessoal. e a uma publicação pessoal não pode exigir serviço público. long story short. não imagina o prazer que tive em fotografar este senhor (precisamente por que as suas medidas não são as daqueles que, usualmente, servem como ícones de estilo) mas se eu só quisesse fotografar homens atléticos e mulheres elegantes esse era, tão simplesmente, um direito meu. esse não é o caso mas a visão que tenho das coisas, seja ela qual for e agrade-lhe mais ou menos é, simplesmente, a minha visão das coisas. aquela a que, goste a sra. muito ou pouco, eu tenho o mais pleno direito. e quaisquer obrigações acrescidas... caber-me-á a mim assumi-las e não a si designá-las

quando fotografei o Augustín comentei com quem me acompanhava "já ganhei o dia". chamasse-se ele Zé Augusto, teria comentado o mesmo. quem tiver perdido algum tempo neste blogue e questionar isso é algo mais que preconceituoso. ou é tolo ou é maldoso também

Anónimo disse...

Alfaiate

Eu achava que as lisboetas eram lindas. E são!
Mas as madrilenhas..... deixam-me de boa aberta. Agora que vivo cá sei disso. e sou lisboeta (rapariga).
E pensar que o meu marido viveu aqui um ano sozinho. Hummm. é melhor nem pensar! :)

Pericles Pinto disse...

Eh lá... o José Cabrala picar-se e a responder a um post!?!

Isto é novo... e é bom. Assim é que é. Contacto com os leitores e nada de apagar aquilo de que não se gosta.

http://muitosuave.wordpress.com/